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CARLOS HEITOR CONY
A onça e a água
RIO DE JANEIRO - Está na hora de a
onça beber água. Não sei quem inventou a expressão, ela é antiga, já a
encontrei quando vim a este mundo.
Significa mais ou menos aquilo que
os ingleses gostam de definir como o
momento da verdade.
O momento vem agora, e a verdade
é saber se o governo tem condições de
governar. O desafio que lhe é proposto não é uma obra estrutural, mas
um trabalho de infra-estrutura. Fosse
uma obra estrutural, o governo pisaria no acelerador e iria para a frente,
desse no que desse. Uma superusina,
uma superestrada, até mesmo uma
supercidade.
Já a reforma da Previdência dependerá do grande circo da mídia e, em
escala fundamental, do Congresso
nacional, onde a posição de cada
congressista é condicionada por interesses partidários e pessoais.
E pela mobilização dos lobbies, dos
mais poderosos por sinal, que incluirão militares, magistrados e todo o
funcionalismo público, que constitui
grande parte da espinha dorsal do
mercado de trabalho.
Sabe-se que a base política do governo apresenta rachas e ameaça
maiores fendas a cada dia. Neste segundo semestre que começamos, o
tabuleiro já se arma para as eleições
municipais do ano que vem, uma
coordenada que será levada em conta na próxima sucessão presidencial.
Todos os fatores, os já lançados e os
que serão lançados, exigirão do governo uma assombrosa capacidade
de negociação que pode descambar
para a barganha. Uma reforma como a da Previdência não dependerá
unicamente da vontade política do
Executivo -o caso da construção de
Brasília, por exemplo, escorada num
ato constitucional transitório, dependeu apenas da fé e do pé na tábua do
presidente.
Até agora, o governo, que surgiu de
uma coligação eleitoral contraditória, não dominou o rebanho. Há ovelhas tresmalhadas no próprio PT. Para usar uma pitoresca expressão do
Brizola, gente costeando o alambrado com vontade de pular fora.
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