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São Paulo, terça-feira, 22 de julho de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

A onça e a água

RIO DE JANEIRO - Está na hora de a onça beber água. Não sei quem inventou a expressão, ela é antiga, já a encontrei quando vim a este mundo. Significa mais ou menos aquilo que os ingleses gostam de definir como o momento da verdade.
O momento vem agora, e a verdade é saber se o governo tem condições de governar. O desafio que lhe é proposto não é uma obra estrutural, mas um trabalho de infra-estrutura. Fosse uma obra estrutural, o governo pisaria no acelerador e iria para a frente, desse no que desse. Uma superusina, uma superestrada, até mesmo uma supercidade.
Já a reforma da Previdência dependerá do grande circo da mídia e, em escala fundamental, do Congresso nacional, onde a posição de cada congressista é condicionada por interesses partidários e pessoais.
E pela mobilização dos lobbies, dos mais poderosos por sinal, que incluirão militares, magistrados e todo o funcionalismo público, que constitui grande parte da espinha dorsal do mercado de trabalho.
Sabe-se que a base política do governo apresenta rachas e ameaça maiores fendas a cada dia. Neste segundo semestre que começamos, o tabuleiro já se arma para as eleições municipais do ano que vem, uma coordenada que será levada em conta na próxima sucessão presidencial.
Todos os fatores, os já lançados e os que serão lançados, exigirão do governo uma assombrosa capacidade de negociação que pode descambar para a barganha. Uma reforma como a da Previdência não dependerá unicamente da vontade política do Executivo -o caso da construção de Brasília, por exemplo, escorada num ato constitucional transitório, dependeu apenas da fé e do pé na tábua do presidente.
Até agora, o governo, que surgiu de uma coligação eleitoral contraditória, não dominou o rebanho. Há ovelhas tresmalhadas no próprio PT. Para usar uma pitoresca expressão do Brizola, gente costeando o alambrado com vontade de pular fora.


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