São Paulo, quinta-feira, 22 de julho de 2004

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Emprego é tudo

PAULO PEREIRA DA SILVA

Desde muito jovem, sempre vi São Paulo como uma cidade inesgotável, principalmente em matéria de oportunidades. Apesar da crueza do seu concreto e da indiferença dos seus sentidos, qualquer pessoa disposta a lutar por um lugar ao sol -do mais modesto ao mais ousado- tinha aqui a sua chance. Assim foi comigo e também com milhões de brasileiros de todas as partes do país que vieram para cá em busca de trabalho.
Infelizmente, essa minha visão se dissipou ao longo do tempo. O retrato agora é outro. É cinza, triste e feio. A São Paulo das oportunidades ficou para trás. Distante de quem quer investir, mais distante ainda de quem precisa trabalhar. A São Paulo que um dia foi a cidade-emprego hoje ostenta índices insuportáveis de desemprego. São mais de 2 milhões de trabalhadores na rua da amargura. Esse exército de homens, mulheres e jovens desempregados compõe hoje, ironicamente, a nossa maior categoria profissional.


A prefeitura pode fazer muita coisa para reduzir o desemprego e ajudar a levantar o moral de milhares de trabalhadores


É verdade que o Brasil se tornou refém de uma conjuntura econômica globalizada para a qual nunca esteve preparado. Mas é verdade, também, que os nossos problemas se agravaram, sobretudo o desemprego, a partir da política econômica iniciada há dez anos pelo governo tucano e continuada pelo governo Lula, cuja principal característica são os juros estratosféricos e uma carga tributária insuportável.
E, fechando o ciclo, São Paulo tem sido, continuadamente, vítima de administrações municipais desastrosas e equivocadas. Tivemos um Maluf, governando -como era de esperar- para o lado rico da cidade com suas obras megalômanas, de custo suspeito e valor social duvidoso. Tivemos um Pitta, desgovernando -como era presumível- o município e levando São Paulo, literalmente, ao fundo do poço. E, por último, tivemos Marta Suplicy e o PT, engessando a cidade com aumentos abusivos de impostos e a criação de novas taxas, o que tornou São Paulo uma cidade muito cara para atrair qualquer tipo de investimento.
Todos os outros candidatos a prefeito, todos, falam a mesma coisa quando o tema é desemprego: "É preciso melhorar a economia, atrair investimentos, reduzir impostos..." -e por aí afora. Também concordo com isso, mas esse é o tipo de discurso que, na falta de ação, acaba se perdendo no vazio. É preciso ser mais contundente e verdadeiro. Todos sabemos que não dá para acabar com o desemprego da noite para o dia, mas é perfeitamente possível reduzi-lo e, ao mesmo tempo, criar condições para melhorar a auto-estima do trabalhador desempregado.
Quero governar a cidade de São Paulo partindo de uma premissa conceitual segundo a qual o emprego é tudo. Porque nada é mais prioritário, agora, do que o emprego. Da mesma maneira que quem tem fome tem pressa, quem está desempregado também tem pressa. Com emprego, as pessoas têm condições de suprir suas principais necessidades básicas: comida na mesa, moradia, transporte, escola para os filhos, serviços de saúde. Na verdade, só com emprego o trabalhador pode andar de cabeça erguida. E ninguém precisa ser líder sindical para chegar a essa constatação.
A prefeitura pode fazer muita coisa, sim, para reduzir o desemprego e ajudar a levantar o moral de milhares de trabalhadores. Antes de tudo, é preciso baratear o custo da cidade, eliminando imediatamente a taxa de lixo e a taxa de luz. A prefeitura também pode trocar imposto por emprego, garantindo redução em algum tributo municipal para as empresas que contratarem novos empregados. Uma outra medida importante é a abertura do comércio aos domingos e feriados, desde que 50% das vagas sejam preenchidas por novos trabalhadores.
Além disso -e essa foi a minha condição para apoiar a prefeita Marta Suplicy no segundo turno da eleição passada-, a prefeitura tem de implantar o bilhete eletrônico gratuito para o trabalhador desempregado, para que ele tenha, no mínimo, condições de correr atrás da sua recolocação no mercado de trabalho.
Uma das prioridades do nosso programa de governo será a implantação de centros de solidariedade, como o da Força Sindical, que reemprega todos os dias 300 trabalhadores nas 31 sub-regiões da cidade. Essa é uma experiência extraordinária que precisa ser disseminada por todos os bairros. Enfim, o nosso foco principal vai ser permanentemente a geração de empregos.
O meu grande sonho é ver minha São Paulo novamente generosa, como foi um dia comigo e com tantos outros brasileiros que aqui construíram suas vidas. Quero, sim, ser prefeito de São Paulo, para ajudar a fazer desta cidade novamente a "cidade-oportunidade" e poder ouvir de novo as pessoas falando que aqui todos têm uma chance, todos têm vez, que aqui sempre haverá trabalho para quem quer e precisa trabalhar.

Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, 47, presidente licenciado da Força Sindical, é candidato, pelo PDT, à Prefeitura de São Paulo.


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