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São Paulo, segunda-feira, 22 de setembro de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Enfim, o espetáculo

RIO DE JANEIRO - Custou, mas tivemos, afinal, o espetáculo prometido pelo presidente da República. Não exatamente o espetáculo do crescimento, que ficará para bem mais tarde, quando tudo for reformado de acordo com os interesses do esquema de sustentação política que o levou ao poder e ali o mantém.
O espetáculo, por estranho que pareça, pela densidade das peruas presentes, com a trilha sonora bem óbvia do "Only You", foi de outra natureza, mais amena, que diabo, chega de pensar em salvação nacional, deixa isso para a turma do contra, os radicais de sempre, agora acrescidos por um senador da República.
Deus é testemunha da minha admiração pela Marta Suplicy. Houve um tempo em que os críticos cinematográficos esnobavam a Doris Day, tida como cafona, até que Hitchcock fez dela uma de suas atrizes favoritas. A prefeita paulistana também desagrada aos que a consideram uma esfuziante perua, mas ela faz bem o gênero e há quem goste, eu inclusive.
Mais uma vez ela deu um exemplo de determinação, assumindo o grande mico de um casamento que poderia nascer, crescer e frutificar em surdina, na moita, e ninguém teria nada com isso. Como militante de um partido complexo como o PT, ela se mostrou solidária com o presidente da República, que vem prometendo o tal espetáculo de crescimento; e, como aperitivo, armou um espetáculo que desde já pode ser considerado o espetáculo do ano, talvez do século, quiçá do milênio.
O clima de simpósio de peruas combinou com a austeridade de um partido apoiado pelas massas. Nada de fraques, cartolas, pompas e circunstâncias da burguesia decadente. Tudo simples, menos o enorme chapéu usado pela noiva, que deverá ser recolhido a um museu do Partido dos Trabalhadores no dia em que todos perderem o medo de ser felizes.



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