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CARLOS HEITOR CONY
Enfim, o espetáculo
RIO DE JANEIRO - Custou, mas tivemos, afinal, o espetáculo prometido
pelo presidente da República. Não
exatamente o espetáculo do crescimento, que ficará para bem mais tarde, quando tudo for reformado de
acordo com os interesses do esquema
de sustentação política que o levou
ao poder e ali o mantém.
O espetáculo, por estranho que pareça, pela densidade das peruas presentes, com a trilha sonora bem óbvia
do "Only You", foi de outra natureza,
mais amena, que diabo, chega de
pensar em salvação nacional, deixa
isso para a turma do contra, os radicais de sempre, agora acrescidos por
um senador da República.
Deus é testemunha da minha admiração pela Marta Suplicy. Houve
um tempo em que os críticos cinematográficos esnobavam a Doris Day, tida como cafona, até que Hitchcock
fez dela uma de suas atrizes favoritas.
A prefeita paulistana também desagrada aos que a consideram uma esfuziante perua, mas ela faz bem o gênero e há quem goste, eu inclusive.
Mais uma vez ela deu um exemplo
de determinação, assumindo o grande mico de um casamento que poderia nascer, crescer e frutificar em surdina, na moita, e ninguém teria nada
com isso. Como militante de um partido complexo como o PT, ela se mostrou solidária com o presidente da
República, que vem prometendo o tal
espetáculo de crescimento; e, como
aperitivo, armou um espetáculo que
desde já pode ser considerado o espetáculo do ano, talvez do século, quiçá
do milênio.
O clima de simpósio de peruas combinou com a austeridade de um partido apoiado pelas massas. Nada de
fraques, cartolas, pompas e circunstâncias da burguesia decadente. Tudo simples, menos o enorme chapéu
usado pela noiva, que deverá ser recolhido a um museu do Partido dos
Trabalhadores no dia em que todos
perderem o medo de ser felizes.
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