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PIADA DE MAU GOSTO
É grotesca a eleição da Líbia
para presidir a Comissão de Direitos Humanos (CDH) da ONU. O
regime do coronel Muammar Gaddafi, no poder desde 1969, não passa
de uma ditadura militar, onde é nulo
o respeito pelos direitos humanos.
O país frequenta as listas negras de
organizações como a Anistia Internacional e Human Rights Watch,
que reportam casos de execuções,
tortura, prisões arbitrárias e outras
violações. Nos anos 80, a Líbia esteve
envolvida em grandes atentados terroristas, como a explosão do vôo 103
da PanAm sobre Lockerbie, na Escócia, que matou 270 pessoas em 1988.
Colocar um país com esse histórico
à frente da CDH é o que se pode chamar de piada de mau gosto. Mas ela
foi feita. A embaixadora líbia Najat al
Hajjaji foi eleita presidente da CDH
em votação secreta por 33 contra 3.
Houve ainda 17 abstenções. A própria votação secreta é uma novidade,
pois esse cargo costumava ser preenchido por aclamação.
A candidatura da Líbia surgiu por
iniciativa do chamado grupo africano e materializou-se com os votos de
países do Terceiro Mundo. Alguns
deles, como Cuba, Argélia e Sudão,
têm um histórico de direitos humanos semelhante ao da Líbia. Pelos debates anteriores à votação, sabe-se
que as três nações que tiveram a coragem de votar contra a Líbia foram
EUA, Canadá e Guatemala. Os sete
países da União Européia na CDH
vergonhosamente se abstiveram. O
Brasil ou fez o mesmo ou, pior,
chancelou a farsa.
A situação só não é mais grave porque a CDH não tem funções executivas, as quais cabem ao Alto Comissariado para Direitos Humanos, comandado pelo diplomata brasileiro
Sérgio Vieira de Mello. O dano à imagem das Nações Unidas, contudo, é
considerável. E ocorre num momento em que a organização enfrenta
graves desafios, notadamente em relação à crise iraquiana. Dificilmente
os membros da CDH teriam escolhido um momento pior para pôr à prova a credibilidade da ONU.
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