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São Paulo, quinta-feira, 23 de janeiro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

O déficit e a montanha

DAVOS - Já que acompanhará o presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Europa, bem que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, poderia pedir uma conversa franca e descontraída com Francis Mer, o ministro francês das Finanças.
Acontece que a França está ameaçando desafiar ordens da Comissão Européia, o braço executivo do conglomerado de 15 países, para reduzir drasticamente o seu déficit fiscal.
É, de alguma forma, um desafio à versão européia da Lei da Responsabilidade Fiscal, tida pelos mais recentes governantes brasileiros como sagrada. Na Europa, regra similar existe há mais tempo, inscrita no Tratado de Maastricht, que determina que o déficit não pode superar 3% do PIB (medida da produção econômica de um país num dado período).
O buraco francês não passou ainda do teto, mas está perto dele, o que acendeu o alarme nos responsáveis pelo respeito às regras.
Acontece que Mer tem um argumento de lógica impecável: em momentos de desaceleração econômica, qualquer bom manual de economia recomenda que o governo gaste mais para reanimar a atividade produtiva combalida.
Ao jornal britânico "Financial Times", Mer disse o seguinte: "O que importa é a direção (da redução do déficit). Nós vamos subir a montanha no nosso próprio ritmo. Podemos chegar ao topo um pouco depois dos outros, mas o objetivo continua sendo chegar ao topo".
A redução do déficit no Brasil parece ser uma decisão da sociedade, mais até do que do governo. Mas, numa hora de anemia econômica, como a que se arrasta desde o ano passado, deveria ser possível adiar a chegada ao topo.
Não se trata de uma questão ideológica. A França não é governada por trotskistas ou pelo MST, mas por uma coalizão tida como conservadora. Claro que seu peso no mundo é imensamente superior ao do Brasil, mas não custa tentar pegar carona na lógica de Mer, não?


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