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CLÓVIS ROSSI
O déficit e a montanha
DAVOS - Já que acompanhará o presidente Luiz Inácio Lula da Silva à
Europa, bem que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, poderia pedir uma conversa franca e descontraída com Francis Mer, o ministro
francês das Finanças.
Acontece que a França está ameaçando desafiar ordens da Comissão
Européia, o braço executivo do conglomerado de 15 países, para reduzir
drasticamente o seu déficit fiscal.
É, de alguma forma, um desafio à
versão européia da Lei da Responsabilidade Fiscal, tida pelos mais recentes governantes brasileiros como sagrada. Na Europa, regra similar existe há mais tempo, inscrita no Tratado de Maastricht, que determina que
o déficit não pode superar 3% do PIB
(medida da produção econômica de
um país num dado período).
O buraco francês não passou ainda
do teto, mas está perto dele, o que
acendeu o alarme nos responsáveis
pelo respeito às regras.
Acontece que Mer tem um argumento de lógica impecável: em momentos de desaceleração econômica,
qualquer bom manual de economia
recomenda que o governo gaste mais
para reanimar a atividade produtiva
combalida.
Ao jornal britânico "Financial Times", Mer disse o seguinte: "O que
importa é a direção (da redução do
déficit). Nós vamos subir a montanha
no nosso próprio ritmo. Podemos
chegar ao topo um pouco depois dos
outros, mas o objetivo continua sendo chegar ao topo".
A redução do déficit no Brasil parece ser uma decisão da sociedade,
mais até do que do governo. Mas, numa hora de anemia econômica, como a que se arrasta desde o ano passado, deveria ser possível adiar a chegada ao topo.
Não se trata de uma questão ideológica. A França não é governada por
trotskistas ou pelo MST, mas por
uma coalizão tida como conservadora. Claro que seu peso no mundo é
imensamente superior ao do Brasil,
mas não custa tentar pegar carona
na lógica de Mer, não?
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