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São Paulo, quinta-feira, 23 de janeiro de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Sem medo de ser feliz

BRASÍLIA - Uma no ferro, sem outra na ferradura. Na sua primeira reunião no governo Lula, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) aumentou os juros. Sim, senhor, aumentou os juros!
No ferro, para mostrar aos investidores, aos banqueiros e assemelhados -a Davos, enfim- que o BC vai ser independente e não está nem aí para as firulas políticas.
E nada na ferradura, porque vai ser difícil explicar para a opinião pública, especialmente para a opinião pública petista e para o Fórum de Porto Alegre, que o novo governo "veio para mudar", mas a primeira medida do Copom é aumentar juros.
A taxa Selic passou de 25% para 25,5% ao ano, maior índice desde maio de 99. E sem viés de baixa. Ou seja, sem perspectiva de haver uma queda até a próxima reunião.
A decisão comprova que, entre o discurso de oposição e a prática de governo, vai uma diferença abissal. Como fica a história de que baixar juros era só questão de "vontade política"? E a promessa de que qualquer novo governo jogaria os juros para baixo para salvar a indústria nacional, garantir o crescimento e gerar empregos? Blablablá de campanha?
Aliás, a decisão do Copom foi no dia em que Gustavo Patú, da Folha, reproduziu trecho de documento oficial do governo reconhecendo um fator político na crise financeira iniciada em 2002, pelo temor da vitória de Lula. Falar isso na campanha era heresia anti-PT. Agora, é admitir o óbvio. O óbvio virou óbvio!
Juntando-se tudo à constatação de que as reformas que o PT propõe são as do governo FHC -em especial a da Previdência-, conclui-se: 1) PSDB, PFL e PMDB serão decisivos para as votações no Congresso, porque as reformas nem são do PT, são da "oposição"; 2) falar contra era fácil, fazer diferente é que são elas.
Lula e o PT elegeram-se com o discurso da "mudança", mas não estão reinventando a roda. E FHC, Malan e cia. nem podem tripudiar. O fantasma deles ronda o governo. Ou continua no poder.


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