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ELIANE CANTANHÊDE
Sem medo de ser feliz
BRASÍLIA - Uma no ferro, sem outra na ferradura. Na sua primeira reunião no governo Lula, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco
Central) aumentou os juros. Sim, senhor, aumentou os juros!
No ferro, para mostrar aos investidores, aos banqueiros e assemelhados
-a Davos, enfim- que o BC vai ser
independente e não está nem aí para
as firulas políticas.
E nada na ferradura, porque vai ser
difícil explicar para a opinião pública, especialmente para a opinião pública petista e para o Fórum de Porto
Alegre, que o novo governo "veio para mudar", mas a primeira medida
do Copom é aumentar juros.
A taxa Selic passou de 25% para
25,5% ao ano, maior índice desde
maio de 99. E sem viés de baixa. Ou
seja, sem perspectiva de haver uma
queda até a próxima reunião.
A decisão comprova que, entre o
discurso de oposição e a prática de
governo, vai uma diferença abissal.
Como fica a história de que baixar
juros era só questão de "vontade política"? E a promessa de que qualquer
novo governo jogaria os juros para
baixo para salvar a indústria nacional, garantir o crescimento e gerar
empregos? Blablablá de campanha?
Aliás, a decisão do Copom foi no
dia em que Gustavo Patú, da Folha,
reproduziu trecho de documento oficial do governo reconhecendo um fator político na crise financeira iniciada em 2002, pelo temor da vitória de
Lula. Falar isso na campanha era heresia anti-PT. Agora, é admitir o óbvio. O óbvio virou óbvio!
Juntando-se tudo à constatação de
que as reformas que o PT propõe são
as do governo FHC -em especial a
da Previdência-, conclui-se: 1)
PSDB, PFL e PMDB serão decisivos
para as votações no Congresso, porque as reformas nem são do PT, são
da "oposição"; 2) falar contra era fácil, fazer diferente é que são elas.
Lula e o PT elegeram-se com o discurso da "mudança", mas não estão
reinventando a roda. E FHC, Malan
e cia. nem podem tripudiar. O fantasma deles ronda o governo. Ou continua no poder.
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