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Por que não?
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Dia 1º de setembro, a
Malásia adotou controles cambiais,
uma medida que violenta a ideologia
hegemônica, que manda deixar os
mercados à vontade.
Choveram análises prevendo que o
país seria jogado no mais profundo
abismo e jamais emergiria das trevas.
Ontem, a "Far Eastern Economic Review", uma revista ultraliberal, fez
uma avaliação dos quase cinco meses
de controle cambial.
Conclusão retórica: "Os que apóiam
(controle de capitais) têm algumas razões para comemorar".
Dados factuais: a moeda local estabilizou-se; as taxas de juros despencaram (de 10,2% para 6,5%); as exportações cresceram (2%), fortalecendo as
reservas internacionais (que aumentaram US$ 3,5 bilhões); as vendas de
carros e imóveis pararam de cair; os
mercados de capitais melhoraram, e
bancos debilitados estão sendo reestruturados.
Claro que a revista não poderia deixar passar de graça o relativo êxito
dessa violência aos princípios liberais.
Por isso, acrescenta que outras economias problemáticas da Ásia, em especial Tailândia e Coréia do Sul, que seguiram a ortodoxia liberal do FMI,
exibem dados semelhantes.
É um exagero, quando se sabe que a
economia tailandesa retrocedeu 8%
em 98 e que a da Coréia caiu 7%.
Mas, ainda que seja verdade, tem-se
o seguinte: a aplicação da receita liberal ou do intervencionismo deu resultados mais ou menos parecidos, mesmo na análise liberal. Ou seja, a realidade, ao menos até agora, desmente a
teoria de que os mercados puniriam
duramente os atrevidos.
O que tem isso a ver com o Brasil?
Tudo. Se fracassou a política cambial
rígida do período Gustavo Franco, se
está sendo mais turbulenta do que se
previa a transição para a livre flutuação, a alternativa do controle de câmbio tende a se tornar o único caminho.
Já serve para algo saber que não foi o
fim do mundo na Malásia.
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