São Paulo, sábado, 23 de janeiro de 1999

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Por que não?

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Dia 1º de setembro, a Malásia adotou controles cambiais, uma medida que violenta a ideologia hegemônica, que manda deixar os mercados à vontade.
Choveram análises prevendo que o país seria jogado no mais profundo abismo e jamais emergiria das trevas.
Ontem, a "Far Eastern Economic Review", uma revista ultraliberal, fez uma avaliação dos quase cinco meses de controle cambial.
Conclusão retórica: "Os que apóiam (controle de capitais) têm algumas razões para comemorar".
Dados factuais: a moeda local estabilizou-se; as taxas de juros despencaram (de 10,2% para 6,5%); as exportações cresceram (2%), fortalecendo as reservas internacionais (que aumentaram US$ 3,5 bilhões); as vendas de carros e imóveis pararam de cair; os mercados de capitais melhoraram, e bancos debilitados estão sendo reestruturados.
Claro que a revista não poderia deixar passar de graça o relativo êxito dessa violência aos princípios liberais. Por isso, acrescenta que outras economias problemáticas da Ásia, em especial Tailândia e Coréia do Sul, que seguiram a ortodoxia liberal do FMI, exibem dados semelhantes.
É um exagero, quando se sabe que a economia tailandesa retrocedeu 8% em 98 e que a da Coréia caiu 7%.
Mas, ainda que seja verdade, tem-se o seguinte: a aplicação da receita liberal ou do intervencionismo deu resultados mais ou menos parecidos, mesmo na análise liberal. Ou seja, a realidade, ao menos até agora, desmente a teoria de que os mercados puniriam duramente os atrevidos.
O que tem isso a ver com o Brasil? Tudo. Se fracassou a política cambial rígida do período Gustavo Franco, se está sendo mais turbulenta do que se previa a transição para a livre flutuação, a alternativa do controle de câmbio tende a se tornar o único caminho. Já serve para algo saber que não foi o fim do mundo na Malásia.



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