São Paulo, segunda-feira, 23 de fevereiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

INFLAÇÃO ESCOLAR

É grave constatar que mensalidades escolares vêm subindo acima da inflação nos últimos anos. Levantamento realizado pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos) mostra que, entre 1997 e 2004, mensalidades subiram em média 94,52% contra um aumento no custo de vida de 72,05%.
Existem várias hipóteses não-excludentes para explicar essa situação. Empresários do setor, principalmente os do segmento do ensino superior, que liderou a alta, falam em investimentos em bibliotecas, laboratórios e na qualificação do corpo docente. É possível que tenham estimado mal o aumento da demanda e investido além do sustentável. Esse cenário é corroborado pelo grande número de vagas ociosas no setor. Pelo menos no último ano, a inadimplência também pode ter funcionado como um fator de perda de receitas, que o empresário tenta compensar elevando as mensalidades.
Seja como for, o mercado particular de ensino é um ambiente no qual é razoavelmente forte a concorrência. Isso, ao lado das vagas ociosas, como que afasta a possibilidade de que um cartel tenha atuado para manipular os preços das mensalidades.
O problema desses aumentos é que eles ocorreram ao lado de uma queda na renda dos trabalhadores. O pior cenário é o de que se instale um círculo vicioso, no qual os assalariados, empobrecidos, tirem seus filhos das escolas particulares e estas, para compensar a perda de alunos, tenham de elevar ainda mais os preços.
Nos ensinos fundamental e médio, a rede pública ainda teria condições de absorver uma demanda extra, mas no nível superior não. Toda a expansão do ensino universitário realizada ao longo dos últimos anos se deu no setor privado.
É do interesse das próprias escolas encontrar fórmulas de conter seus aumentos ou o problema poderá agravar-se ainda mais.


Texto Anterior: Editoriais: BALANÇO POSITIVO
Próximo Texto: Editoriais: RECUPERAÇÃO EUROPÉIA

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.