São Paulo, segunda-feira, 23 de fevereiro de 2004

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FERNANDO RODRIGUES

Gestão defeituosa

BRASÍLIA - Acertada do ponto de vista político, será mínimo o efeito da eventual saída de José Dirceu da Casa Civil para uma possível moralização das ações ali executadas. Também não faz diferença que Waldomiro Diniz já tenha sido ejetado -ainda que "a pedido"- do Planalto.
O problema é o modelo de gestão defeituoso. Viceja nas trevas uma relação promíscua entre o Poder Executivo e o Congresso.
Não há controle público. Inexiste transparência. Tem sido assim há décadas. É a praxe em democracias representativas burguesas mundo afora. Algumas sociedades são pródigas em estabelecer sistemas de pesos e contrapesos. No Brasil, "o horror, o horror", diria Conrad. Aqui, Lulas e FHCs acham mais cômodo e adoram usar os "300 picaretas" do Congresso, para ficar na terminologia do petista pré-fase paz e amor.
O flagelo é conhecido. José Dirceu e seus assessores enfrentam dois tipos clássicos de fisiologia com o Congresso: 1) pedidos de liberação de emendas do Orçamento e 2) indicações de pessoas para cargos na máquina federal. Entre as audiências, podem aparecer "otras cositas más". Atender lobistas, por exemplo.
A Casa Civil opera em silêncio. Beneficia-se ao manter tudo oculto. Tem planilhas implacáveis. Cobra suas faturas em votações no Congresso. Essa é a gênese do poder de José Dirceu e de seus antecessores.
Por que esse sigilo nas relações entre o Planalto e o Poder Legislativo? Afinal, é legítimo um deputado propor verbas para a construção de uma ponte. Também é compreensível que um senador tenha desejo de indicar um conhecido para ocupar a chefia do INSS no interior do Piauí.
Se quisesse, Dirceu poderia colocar essa lista de pedidos -atendidos ou não- à disposição do público. Atacaria a origem central da maioria dos escândalos. O ministro ficaria com muito menos poder de barganha, é verdade. Como é de poder que essa turma gosta, a chance de uma mudança é nula. Lula, sabe-se, não foi eleito para fazer mudanças.


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