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FERNANDO RODRIGUES
Gestão defeituosa
BRASÍLIA - Acertada do ponto de vista político, será mínimo o efeito da
eventual saída de José Dirceu da Casa Civil para uma possível moralização das ações ali executadas. Também não faz diferença que Waldomiro Diniz já tenha sido ejetado -ainda que "a pedido"- do Planalto.
O problema é o modelo de gestão
defeituoso. Viceja nas trevas uma relação promíscua entre o Poder Executivo e o Congresso.
Não há controle público. Inexiste
transparência. Tem sido assim há décadas. É a praxe em democracias representativas burguesas mundo afora. Algumas sociedades são pródigas
em estabelecer sistemas de pesos e
contrapesos. No Brasil, "o horror, o
horror", diria Conrad. Aqui, Lulas e
FHCs acham mais cômodo e adoram
usar os "300 picaretas" do Congresso,
para ficar na terminologia do petista
pré-fase paz e amor.
O flagelo é conhecido. José Dirceu e
seus assessores enfrentam dois tipos
clássicos de fisiologia com o Congresso: 1) pedidos de liberação de emendas do Orçamento e 2) indicações de
pessoas para cargos na máquina federal. Entre as audiências, podem
aparecer "otras cositas más". Atender lobistas, por exemplo.
A Casa Civil opera em silêncio. Beneficia-se ao manter tudo oculto.
Tem planilhas implacáveis. Cobra
suas faturas em votações no Congresso. Essa é a gênese do poder de José
Dirceu e de seus antecessores.
Por que esse sigilo nas relações entre o Planalto e o Poder Legislativo?
Afinal, é legítimo um deputado propor verbas para a construção de uma
ponte. Também é compreensível que
um senador tenha desejo de indicar
um conhecido para ocupar a chefia
do INSS no interior do Piauí.
Se quisesse, Dirceu poderia colocar
essa lista de pedidos -atendidos ou
não- à disposição do público. Atacaria a origem central da maioria
dos escândalos. O ministro ficaria
com muito menos poder de barganha, é verdade. Como é de poder que
essa turma gosta, a chance de uma
mudança é nula. Lula, sabe-se, não
foi eleito para fazer mudanças.
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