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Volks do Brasil. Do Brasil?
CLÓVIS ROSSI
São Paulo -É emblemática do relacionamento governo/multinacionais a
proposta do vice-presidente da Volkswagen do Brasil, Miguel Jorge, de restrição voluntária das exportações brasileiras de veículos para a Argentina.
Para a Volks, é de fato indiferente
exportar mais ou menos para a Argentina, uma vez que tem uma unidade
também naquele país. Vender menos
veículos produzidos no Brasil, desde
que mantendo um certo nível de produção na Argentina, parece bastar para a política mundial do grupo, que,
de resto, não é decidida nem no Brasil
nem na Argentina, mas na Alemanha.
Mas, para o nível de emprego e de
arrecadação de impostos no Brasil, faz
diferença, sim.
Claro que a Volks não tem obrigação
alguma de zelar pelo nível de emprego
no Brasil nem pela arrecadação do governo, a não ser a partir de critérios
éticos, que a matriz alemã até aplicou
quando introduziu uma jornada de
trabalho mais reduzida, para evitar
demissões em massa.
O governo brasileiro é que teria todo
o interesse em forçar as empresas a exportar mais, agora que ruiu o entrave
representado por um real estupidamente sobrevalorizado.
Pena que o governo só se mostre capaz de agir quando se trata de proteger interesses poderosos. Chegou até a
estabelecer uma muralha de proteção
à indústria automobilística localmente instalada (na altura de 70%), com o
que brecou uma enxurrada de importações e contrabalançou a sobrevalorização do real pelo menos para esse
setor da economia.
Cito o caso da Volks apenas porque
seu vice-presidente ousou pensar alto
o que colegas seus, que têm igualmente negócios nos dois lados da fronteira, talvez prefiram calar.
Mas não é um exemplo isolado de
como a lógica do mercado só vale seletivamente. Para a Volkswagen, vale a
lógica da própria Volkswagen. Para o
Brasil, a lógica deveria ser outra. Se
houvesse governo, claro.
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