São Paulo, Terça-feira, 23 de Fevereiro de 1999
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Nada pelo social?

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Taí. Essa é inacreditável. Como é que o governo vai cortar pela metade o programa de distribuição de cestas básicas? E justamente agora?
A idéia é reduzir pela metade os 1,7 milhão de famílias atendidas pelo Prodea, do Comunidade Solidária. A justificativa pode ser financeira, filosófica, sei lá o quê. Continua cruel e de péssimo gosto numa hora de crise.
É por essas e outras que OAB, CNBB, Fundação Abrinq, a ONG Missão Criança e a Andi (Agência Nacional de Notícias para o Desenvolvimento Infantil) vão se reunir amanhã em Brasília. E botar a boca no trombone.
Em nota, vão defender uma mudança radical de agenda, inclusive a da reunião de sexta-feira entre Fernando Henrique Cardoso e os governadores. Em vez de dívida financeira, que tal falarmos de dívida social?
A proposta objetiva: o governo federal deve deixar de cobrar 3% das dívidas dos Estados, desde que esse valor seja integralmente usado em projetos para as crianças. A contrapartida dos Estados seria complementar os projetos com 3% de sua receita.
No seu primeiro esboço, a nota lembra que US$ 1 bilhão seria suficiente para tirar 4 milhões de crianças do trabalho infantil, via bolsa-escola. Alguém discorda de que vale a pena?
O movimento não está falando sozinho. Um exemplo: ontem, ao abrir oficialmente os trabalhos do Congresso deste ano, o senador Antonio Carlos Magalhães propôs uma mudança da agenda, com o debate da justiça social e do fim gradual do desemprego.
Aproveitou para criticar o FMI, por se intrometer nos destinos da nação, querendo prejudicar justamente os que já são mais pobres.
A reunião das entidades pode ser a encenação de sempre. O discurso de ACM, mais um blablablá de político astuto. Mas não deixa de ser relevante que entidades e personagens tão diferentes comecem a dizer a mesma coisa que você aí, leitor, fala todo santo dia.
A conclusão que o deputado José Genoino (PT) tirou da entrevista de FHC na Folha de sábado é perfeita: "O Brasil vai dar certo, se tudo der certo".
Faltou defender uma mudança de agenda. É isso que todo mundo quer.


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