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Nada pelo social?
ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - Taí. Essa é inacreditável.
Como é que o governo vai cortar pela
metade o programa de distribuição de
cestas básicas? E justamente agora?
A idéia é reduzir pela metade os 1,7
milhão de famílias atendidas pelo
Prodea, do Comunidade Solidária. A
justificativa pode ser financeira, filosófica, sei lá o quê. Continua cruel e de
péssimo gosto numa hora de crise.
É por essas e outras que OAB, CNBB,
Fundação Abrinq, a ONG Missão
Criança e a Andi (Agência Nacional
de Notícias para o Desenvolvimento
Infantil) vão se reunir amanhã em
Brasília. E botar a boca no trombone.
Em nota, vão defender uma mudança radical de agenda, inclusive a da
reunião de sexta-feira entre Fernando
Henrique Cardoso e os governadores.
Em vez de dívida financeira, que tal
falarmos de dívida social?
A proposta objetiva: o governo federal deve deixar de cobrar 3% das dívidas dos Estados, desde que esse valor
seja integralmente usado em projetos
para as crianças. A contrapartida dos
Estados seria complementar os projetos com 3% de sua receita.
No seu primeiro esboço, a nota lembra que US$ 1 bilhão seria suficiente
para tirar 4 milhões de crianças do
trabalho infantil, via bolsa-escola. Alguém discorda de que vale a pena?
O movimento não está falando sozinho. Um exemplo: ontem, ao abrir oficialmente os trabalhos do Congresso
deste ano, o senador Antonio Carlos
Magalhães propôs uma mudança da
agenda, com o debate da justiça social
e do fim gradual do desemprego.
Aproveitou para criticar o FMI, por
se intrometer nos destinos da nação,
querendo prejudicar justamente os
que já são mais pobres.
A reunião das entidades pode ser a
encenação de sempre. O discurso de
ACM, mais um blablablá de político
astuto. Mas não deixa de ser relevante
que entidades e personagens tão diferentes comecem a dizer a mesma coisa
que você aí, leitor, fala todo santo dia.
A conclusão que o deputado José Genoino (PT) tirou da entrevista de FHC
na Folha de sábado é perfeita: "O Brasil vai dar certo, se tudo der certo".
Faltou defender uma mudança de
agenda. É isso que todo mundo quer.
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