São Paulo, Terça-feira, 23 de Fevereiro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Unidos venceremos

CARLOS HEITOR CONY


Rio de Janeiro - Nunca entendi a importância que a mídia dá a reuniões de políticos. Teremos uma, em breve, com o presidente e alguns governadores. Decupando-a em termos de noticiário, servirá em primeiríssimo lugar para as fotos. Em seguida, cumprirá as obrigatórias etapas:
a) Nota oficial, se for julgada conveniente. Não dirá nada além do que todos já sabem; b) relatos individuais dos participantes, obedecido o acesso de cada qual a cada veículo; c) exaustivas análises do que não foi resolvido.
Dois dias após, começam as informações de cocheira, sopradas pelos assessores protegidos pelo sigilo das fontes. Tudo em off. Fofocas e insinuações de uns contra os outros, plantando interesses para a carreira dos chefes.
Logo se inicia a articulação para outra reunião, esta setorizada. Até que os problemas terminam num guichê: não há dinheiro para nada. E o que sobra do nada, o FMI não deixa gastar.
Evito citar a imagem do cobertor curto que não dá para proteger tudo. Com a União e os Estados em processo falimentar, o dinheiro é manipulado magicamente para garantir o crescimento em baixa e a inflação em alta.
Fico assombrado com essas reuniões de trabalho. Lembro que um presidente dos Estados Unidos nos visitou e aqui passou 32 horas, sendo que oito dedicadas ao sono. Nesse espaço de tempo, ele teve com o presidente do Brasil uma reunião de trabalho que durou exatos 15 minutos.
Além das fotos, assinaram acordos e protocolos sobre a preservação da floresta amazônica, o combate ao narcotráfico, um novo código para as telecomunicações, um intercâmbio cultural, uma declaração sobre direitos humanos e até mesmo uma modificação nos critérios de pesagem da nova safra de soja.
Li em detalhes esse último item. Fiquei pasmo com a meticulosidade dos dois mandatários. Previram até mesmo um erro técnico de 0,05% por quilo, devido ao clima que poderia afetar as balanças.


Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Nada pelo social?
Próximo Texto: Ariano Suassuna: Arte erudita e arte popular
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.