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ELIANE CANTANHÊDE
Chiou, levou
BRASÍLIA - Entre as muitas bananosas em que se meteu, o governo está
especialmente empenhado em resolver uma: a pressão (justa) por aumentos de salários do setor público.
A greve da PF abriu uma espécie de
temporada de paralisações de servidores. O governo podERia ter dado
um basta preventivo desde ali. Não
deu e multiplicou os "inimigos". Não
foi por falta de aviso.
Agora, o Planalto comanda uma
operação para reverter as situações
desconfortáveis, dar alguma resposta
às pressões e mostrar que está atuando -leia-se: governando. É assim
que Lula quer, é assim que mandou
fazer. Até porque é a popularidade
dele que está em jogo. E vem caindo...
Significa que, até agora, os argumentos técnicos vinham ganhando
das posições políticas na eterna e insolúvel disputa de opções quando há
muitos pleitos e poucos recursos. Agora, o governo tende a abrir os cofres
-e seja o que Deus quiser.
O Planalto e o Planejamento trabalham febrilmente para dar reajustes
às principais categorias, para atender
aos pleitos dos procuradores da
União (que, por exemplo, garantem
arrecadação e evitam derrotas na
Justiça) e para estimular certas áreas.
Ou seja: para financiar programas
dos ministérios. Vem aí mais grana
para reforma agrária, para estradas
esburacadas pelas chuvas, para compra de armamento militar.
É bom, mas um risco. A gente vive
criticando o arrocho e a ortodoxia,
cobrando flexibilização, mas, quando ela parece vir, todo mundo se assusta e começa a se perguntar sobre
os efeitos a médio e a longo prazo.
Pois é, o difícil é a calibragem entre
política e contas públicas, entre pesquisas de opinião e gráficos de gastos,
entre greves e folhas de pagamento.
Se fosse fácil, não precisava de governo. E, se não soubesse fazer, que não
virasse governo.
Lula vive um momento decisivo,
pós-Waldomiro e em meio a tanta
efervescência no campo e nas cidades. Tem de se superar. Entre o político Lula que ele sempre foi e o administrador Lula que ele nunca foi, qual
dos dois vai ganhar?
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