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CLÓVIS ROSSI
Subir na vida
SÃO PAULO - Informa a Folha de ontem que ficou mais difícil subir na vida nos anos 90.
Minha intuição já era essa antes de
tomar conhecimento da pesquisa que
deu margem à reportagem da Folha.
Para a minha geração, ao menos para a parte dela de patamar socioeconômico idêntico ou parecido, havia
duas coisas tão inevitáveis como o
nascer do sol todo santo dia:
1 - estudar em escola pública;
2 - não obstante (ou por isso mesmo), alcançar um nível salarial e/ou
social superior ao dos pais.
Para a geração de meus filhos, havia apenas uma inevitabilidade: estudar em escolas particulares. Não
me lembro de jamais ter discutido
com minha mulher se nossos filhos
estudariam em escolas públicas ou
privadas. No máximo, discutimos em
qual escola particular eles deveriam
estudar.
Não obstante (ou por isso mesmo),
todos os três filhos têm imensas dificuldades para atingir o padrão salarial do pai. Meu ego agradeceria
imensamente se pudesse dizer que essa dificuldade se deve ao grande talento do pai deles. Mas o que vejo
com filhos de amigos e/ou colegas da
minha geração só prova que não se
trata disso, mas da real dificuldade
para a ascensão social dos nossos filhos.
É claro que as causas são múltiplas
e não seria o caso de analisá-las todas
aqui. Mas o fator educação desempenha papel fundamental nessa equação, o que, de resto, não chega a ser
uma revelação digna de um Nobel.
Do meu particular ponto de vista, a
questão é simples: há 30 ou 40 anos, a
escola pública era de qualidade, salvo exceções, e a ela se dirigiam os filhos da classe média tanto quanto os
mais pobres, quando podiam. Hoje,
nem a escola particular é de qualidade garantida, salvo exceções, mas a
ela se dirige a classe média em massa
(e os mais pobres ficam na escola pública, também em massa).
Alguma surpresa com o fato de ter
ficado mais difícil subir na vida?
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