|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIANE CANTANHÊDE
"Opep da Amazônia"
PARIS - No Brasil, o governo e o Congresso fingem não ver a bancada ruralista ateando fogo à floresta amazônica e ao restinho de mata atlântica que resta. Depois são obrigados a
correr para apagar o incêndio.
Aqui na França, a coisa é levada
mais a sério. O governo do presidente
Jacques Chirac, que acaba de receber
o cacique Raoni e se encontra com
FHC no início de junho, abomina
tanto a idéia de desmatar quanto a
de "globalizar" a Amazônia.
Uma das vertentes contemporâneas do humanismo é a defesa do
meio ambiente, e a França é um
exemplo de humanismo. Mas não é
só isso. O país da liberdade, igualdade e fraternidade também está salvando a sua. A sua pele e a sua floresta.
A ameaça de "globalizar" a Amazônia atinge em cheio o Brasil e os
brios brasileiros, mas também a própria França, cuja maior fronteira
não é com nenhum dos países europeus, e sim com o Brasil. Por causa da
sua Guiana, ao lado do Amapá.
É por essas e outras que há quem
defenda aqui uma espécie de "Opep
da Amazônia" ou "Opep da Biodiversidade". Os países produtores de
petróleo driblaram o mundo e encheram as burras depois de se organizar
e de ditar os preços mundiais. Os países ricos em biodiversidade (entre os
quais a França matreiramente quer
se incluir) poderiam seguir a trilha.
A Opep vende petróleo. A sua congênere venderia garantia de ar, de vida, de futuro, dividindo com a comunidade internacional o ônus econômico e financeiro de abdicar de explorar suas florestas -sem abrir
mão delas. O "lucro" seria revertido
para outras áreas. A social, por exemplo.
A idéia de uma Opep da Amazônia,
ou da Biodiversidade, é ótima. O problema é virar realidade e, principalmente, reverter para a parte mais pobre e faminta das populações.
A Venezuela, por exemplo, é farta
produtora de petróleo e membro ativo da Opep. Ganhou bilhões com ele.
E seu povo continua na miséria.
Bem, mas levar a discussão por aí já
é querer demais. Um sonho de cada
vez, por favor.
Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: Subir na vida Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: A roda da fortuna Índice
|