São Paulo, terça-feira, 23 de maio de 2000


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ELIANE CANTANHÊDE

"Opep da Amazônia"

PARIS - No Brasil, o governo e o Congresso fingem não ver a bancada ruralista ateando fogo à floresta amazônica e ao restinho de mata atlântica que resta. Depois são obrigados a correr para apagar o incêndio.
Aqui na França, a coisa é levada mais a sério. O governo do presidente Jacques Chirac, que acaba de receber o cacique Raoni e se encontra com FHC no início de junho, abomina tanto a idéia de desmatar quanto a de "globalizar" a Amazônia.
Uma das vertentes contemporâneas do humanismo é a defesa do meio ambiente, e a França é um exemplo de humanismo. Mas não é só isso. O país da liberdade, igualdade e fraternidade também está salvando a sua. A sua pele e a sua floresta.
A ameaça de "globalizar" a Amazônia atinge em cheio o Brasil e os brios brasileiros, mas também a própria França, cuja maior fronteira não é com nenhum dos países europeus, e sim com o Brasil. Por causa da sua Guiana, ao lado do Amapá.
É por essas e outras que há quem defenda aqui uma espécie de "Opep da Amazônia" ou "Opep da Biodiversidade". Os países produtores de petróleo driblaram o mundo e encheram as burras depois de se organizar e de ditar os preços mundiais. Os países ricos em biodiversidade (entre os quais a França matreiramente quer se incluir) poderiam seguir a trilha.
A Opep vende petróleo. A sua congênere venderia garantia de ar, de vida, de futuro, dividindo com a comunidade internacional o ônus econômico e financeiro de abdicar de explorar suas florestas -sem abrir mão delas. O "lucro" seria revertido para outras áreas. A social, por exemplo.
A idéia de uma Opep da Amazônia, ou da Biodiversidade, é ótima. O problema é virar realidade e, principalmente, reverter para a parte mais pobre e faminta das populações.
A Venezuela, por exemplo, é farta produtora de petróleo e membro ativo da Opep. Ganhou bilhões com ele. E seu povo continua na miséria.
Bem, mas levar a discussão por aí já é querer demais. Um sonho de cada vez, por favor.


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