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CARLOS HEITOR CONY
A roda da fortuna
RIO DE JANEIRO - Passou despercebida uma declaração recente de Gustavo Franco, feita nos Estados Unidos e
citada na revista ""Época", em edição
deste mês.
Durante uma palestra, questionado sobre os motivos de a reforma
cambial ter vindo tão tarde, o ex-presidente do Banco Central respondeu
que, embora necessária e urgente, ela
não foi feita para não prejudicar a
reeleição do atual presidente da República.
A classe política, os responsáveis pela economia nacional, acharam natural essa tática eleitoreira. O importante era reeleger o sistema de poder
que governava o país. Qualquer sujeira, qualquer crime seria lícito para
justificar o fim, que seria o continuísmo do presidente da República.
Não me cabe, nem caberia a ninguém, quantificar em dólares ou
reais o prejuízo sofrido pela nação
com o adiamento da reforma cambial. Ela só seria concretizada após a
reeleição assegurada.
Somando esse prejuízo operacional,
impossível de ser avaliado, ao suborno ""cash" que foi pago para a aprovação da emenda no Congresso, teríamos a certeza de que todo o esquema PC Farias-Collor resulta insignificante. Não passou de míseros trocados, de quebras de caixa.
Fala-se muito no custo Brasil. É
realmente uma monstruosidade.
Mas, de certa forma, é coisa nossa,
que tem analogias com a ""cosa nostra" dos mafiosos.
Mas o que nos custou e continua
custando o presidente da República
é, além de exagerado em sua malignidade, uma coisa que não chega a
ser nossa, mas deles, exclusivamente
deles, ou seja, do esquema que está e
pretende continuar no poder.
A partir das eleições municipais de
outubro, mas com os movimentos
preliminares já escancarados, teremos em ação a mesma roda da fortuna que bancará o presidente que
mais custou e continuará custando
ao povo brasileiro.
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