São Paulo, domingo, 23 de maio de 2004

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CLAUDIA ANTUNES

Os carbonários

RIO DE JANEIRO - Alguém ganhou muito dinheiro com a alta do dólar que ocorreu depois que o BC deu um breque no seu ritmo já quelônico de redução da taxa de juros, e certamente não foi a maioria de nós. O maior ganhador tampouco deve ter sido o histriônico deputado Valdemar Costa Neto, alçado de maneira patética ao posto de agitador-mor quando acusou Henrique Meirelles de sabotar a economia nacional.
Os minutos de notoriedade que Costa Neto tem buscado devem provocar ataques ocultos de riso nos verdadeiros carbonários, todos senhores muito sérios e responsáveis, alinhados com o pensamento de uma irmandade onipresente que espalha a imobilidade e o medo.
Veja-se, por exemplo, o diretor do Banco Mundial para o Brasil, Vinod Thomas. Em palestra no Rio, na semana passada, ele colocou a platéia diante do velho enigma do ovo e da galinha ao afirmar que é impossível que o país cresça mais do que parcos 3% ao ano sem distribuir renda dada a enorme parcela da população excluída do consumo.
Como sem crescer não se criam empregos nem se gera mais renda e, naturalmente, taxar mais os ricos está fora de questão, Thomas sugeriu que a distribuição perfeita é aquela feita por meio dos programas de transferência direta, como o Bolsa-Família. Mas não explicou de onde os governos, já arrochados, devem tirar o dinheiro para atender ao número crescente de necessitados.
No mesmo evento, o ex-presidente do BC Affonso Celso Pastore levou um roteiro para concorrer com a série "Pânico". Disse que a atual meta de superávit, de 4,25%, é insuficiente, e sugeriu que ela suba para até, quem sabe, 6%. Quanto aos juros, que aumentam a dívida, deveriam ficar na mesma. A fim de que se inicie um "círculo virtuoso" na economia, concluiu Pastore, o governo deve provar que seu compromisso com a austeridade "é mais firme que o atual".
Perto desse tipo de terrorismo verbal, João Pedro Stedile é fichinha.



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