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São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 2003

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VINICIUS TORRES FREIRE

Lula e a renovação do continuísmo

SÃO PAULO - Além da Constituinte e da queda de Collor, o fato político mais importante desde a ditadura é a adesão definitiva do PT ao establishment. Lula é outro episódio de renovação do continuísmo -a história do Brasil em duas palavras.
É como se o país tivesse chegado ao estágio da incorporação de um partido social-democrata ao poder estabelecido sem antes passar por um conflito social que redundasse em mais democracia e justiça social, como na Europa de 1848 a 1968.
O Brasil não é a Europa, e a história não se desdobra em estágios previsíveis. Mas entre nós é rara a explicitação do conflito social e da eterna apropriação de fundos públicos e diretrizes nacionais por interesses que não o da ralé sempre sem voz.
O país se democratiza a passo de cágado, não há ruptura que universalize o direito do cidadão. Os benefícios sociais menos irrelevantes em 30 anos -renda mínima via Previdência e descentralização da saúde- resultaram da lenta interação entre burocracia estatal e movimentos sociais de baixa temperatura. Foram adotados por governos tão díspares como os da ditadura, Sarney, FHC e Lula. Mas pingam em gotas.
O MST, hoje uma incógnita, tende a desaparecer em caso de modernização capitalista, incorpora-se à máquina do Estado (num ministério de Lula) e não tem como agregar setores sociais a seu combate.
As centrais sindicais há muito se limitam à defesa de interesses setoriais, em lobby uníssono com associações de empresários. De resto, ambas foram cooptadas pelo governo. O sindicato do funcionalismo é mera variante desses apêndices setoriais e sociais do Estado. Os partidos se dividem entre centrão lulista e PSDB/ PFL, o centrão antigo, restrito à crítica cínica, com o mero fim de preservar espaço eleitoral.
Há rebentos de insatisfação lúmpen -perueiros, camelôs e a maré montante do crime, resultado de 20 anos de crise econômica.
Democracia não é isso, interesses em conflito livre, mais ou menos mediado pelo Congresso? Mas quem fala por inempregáveis e periféricos?


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