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CARLOS HEITOR CONY
Maus alunos
RIO DE JANEIRO - Gilberto Dimenstein e Rubem Alves escreveram um
importante e delicioso livro sobre as
frustrações escolares da infância,
quando foram, como eu próprio fui,
maus alunos, sendo que em muito os
superei, pois sempre fui péssimo e o
sou até hoje.
O consolo deles é que souberam,
mais tarde, que Einstein também foi
mau aluno -nesse particular também os supero, pois, além de ser igual
a Einstein na ruindade escolar, nasci
no mesmo dia e mês, embora em ano
diferente.
Os latinos diziam que não aprendemos para a escola mas para a vida.
Gilberto e Rubem dizem a mesma
coisa e citam os afluentes do rio
Amazonas que somos obrigados a
decorar: Juruá, Tefé, Purus, Madeira,
Tapajós, Xingu. Não sei até que ponto tamanha sabedoria foi necessária
à vida deles, a pessoal e a profissional.
De minha parte, aprendi que Agripina morreu no ano 33. De nada me
serviu; mais tarde vim a saber que
houve duas Agripinas, a Velha, neta
de Augusto, e a Jovem, mãe de Nero.
E não sei nem me interessa saber
qual delas morreu no ano 33.
"Fomos Maus Alunos", escrito a
quatro mãos por dois bem-sucedidos
profissionais em suas áreas, não é um
libelo contra a escola em si, mas um
apelo ao ensino moderno, que criará
o chassi sobre o qual montaremos outros conhecimentos que vamos recebendo de outras fontes, ao longo de
toda a vida.
O fato de terem sido maus alunos
não impediu que ambos admirassem
a "Nona", de Beethoven, e os experimentos de Erik Satie. "É preciso lidar
com o prazer", diz Gilberto. "O prazer da incógnita. (...) A escola é o antiprazer da incógnita."
E foi assim que Gilberto Dimenstein e Rubem Alves tornaram-se profissionais reconhecidos e, acredito,
bons cidadãos. O mesmo não aconteceu comigo, que continuei mau aluno até hoje.
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