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Todos perderam
AO FINAL de 50 dias de ocupação da reitoria da USP
por estudantes e funcionários, pode-se concluir que todos saíram perdendo. A manifestação se esgarçou até o ponto em
que, hoje, o melhor que se pode
dizer de seu desfecho é não ter
envolvido violência. Para uma
universidade, local do diálogo e
da argumentação, é pouco.
Os alunos rebelados por certo
obtiveram ganhos, como o compromisso da reitoria de estudar o
aumento de vagas de moradia estudantil e a realização de um
congresso em 2008 para debater
mudanças no estatuto da USP.
Conquistaram ainda a promessa
de não-punição para manifestações suas e dos servidores.
A reitora Suely Vilela ressalvou
que tal garantia não cobre delitos
na área ocupada -o que é óbvio.
Espera-se que a reitora seja mais
expedita na apuração dos fatos e
tomada de providências. Após a
invasão em 3 de maio, a instituição que encabeça precisou de 13
dias para pedir a reintegração de
posse na Justiça.
A condução da crise pela reitora foi errática, com recuos e endurecimentos inócuos, porém
não foi melhor o desempenho do
governo do Estado sob José Serra. A adoção de decretos de motivação obscura e redação idem sobre as instituições de ensino, interpretados como óbices à autonomia universitária, foi o estopim para a violência dos manifestantes, e o governo demorou
demais para recuar. Só o fez com
o decreto declaratório de 31 de
maio -28 dias após a ocupação.
Se a invasão já era indefensável
antes, a partir daí tornou-se absurdo completo. Todos os envolvidos irmanaram-se na omissão
diante de uma decisão judicial,
como se a autonomia universitária implicasse soberania para tudo fazer e deixar de fazer naquele
território. Um mau exemplo, por
antidemocrático, que contribuiu
para encorajar uma onda de ocupações pelo Estado e pelo país.
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