São Paulo, sábado, 23 de junho de 2007

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Todos perderam

AO FINAL de 50 dias de ocupação da reitoria da USP por estudantes e funcionários, pode-se concluir que todos saíram perdendo. A manifestação se esgarçou até o ponto em que, hoje, o melhor que se pode dizer de seu desfecho é não ter envolvido violência. Para uma universidade, local do diálogo e da argumentação, é pouco.
Os alunos rebelados por certo obtiveram ganhos, como o compromisso da reitoria de estudar o aumento de vagas de moradia estudantil e a realização de um congresso em 2008 para debater mudanças no estatuto da USP. Conquistaram ainda a promessa de não-punição para manifestações suas e dos servidores.
A reitora Suely Vilela ressalvou que tal garantia não cobre delitos na área ocupada -o que é óbvio. Espera-se que a reitora seja mais expedita na apuração dos fatos e tomada de providências. Após a invasão em 3 de maio, a instituição que encabeça precisou de 13 dias para pedir a reintegração de posse na Justiça.
A condução da crise pela reitora foi errática, com recuos e endurecimentos inócuos, porém não foi melhor o desempenho do governo do Estado sob José Serra. A adoção de decretos de motivação obscura e redação idem sobre as instituições de ensino, interpretados como óbices à autonomia universitária, foi o estopim para a violência dos manifestantes, e o governo demorou demais para recuar. Só o fez com o decreto declaratório de 31 de maio -28 dias após a ocupação.
Se a invasão já era indefensável antes, a partir daí tornou-se absurdo completo. Todos os envolvidos irmanaram-se na omissão diante de uma decisão judicial, como se a autonomia universitária implicasse soberania para tudo fazer e deixar de fazer naquele território. Um mau exemplo, por antidemocrático, que contribuiu para encorajar uma onda de ocupações pelo Estado e pelo país.


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