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RUY CASTRO
Pressa em condenar
RIO DE JANEIRO - O delegado encarregado do caso Bruno acaba de
completar seus 30 dias de fama.
Durante esse período, investigou,
acusou, julgou, condenou e só faltou passar a sentença sobre o jogador. Muito além da sola, foi detetive, carcereiro, promotor, júri e juiz.
Tal versatilidade pode representar
uma economia para os cofres do Estado, mas está em desacordo com
noções elementares de justiça.
Ocupado em dar entrevistas, ele
só não teve tempo de apresentar as
provas de que necessitava -nem
mesmo o corpo de Eliza Samudio,
dado de barato desde o primeiro
instante. Com isso, o advogado de
defesa já conta com a vitória numa
primeira instância, tantas são as
supostas irregularidades técnicas.
Aliás, este é dos raros casos em
que o uso do "suposto" -recurso
adotado pela imprensa para noticiar sem se comprometer- se aplica. Enquanto não encontrarem o
cadáver, Bruno deveria ser apenas
o suposto assassino ou mandante.
Ou nem isso, porque ainda não está
configurado o crime. Pois, justamente neste caso, alguns tabloides
e canais de TV já partiram para a
acusação frontal: Bruno é tratado
como assassino ou mandante, e
não se discute.
O curioso é que, um mês depois,
o imbróglio parece mais enrolado
do que nunca. Pelos depoimentos,
Bruno, três cúmplices, seis ou sete
testemunhas e uma mulher diferente por semana entram e saem de
carros, motéis e chácaras, e o bebê
passa de mão em mão enquanto
eles se acusam e se desdizem deixando todo mundo tonto. É Agatha
Christie ao ritmo dos Irmãos Marx.
No Brasil, temos pressa em condenar. Mas, uma vez estabelecida a
condenação, não há pressa para
executar a sentença. O jornalista
Antonio Pimenta Neves, por exemplo, réu confesso, julgado e condenado pela morte de sua ex-namorada, arrisca-se a morrer de velhice
fora da prisão onde deveria estar há
dez anos.
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