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VINICIUS TORRES FREIRE
Olímpicas
SÃO PAULO - 1. Na TV, família e amigos de Robert Scheidt comemoravam no Brasil a medalha de ouro do
grande velejador. Uma garrafa e taças de um vinho espumante claro,
talvez champanhe, em algumas
mãos. Lembrei da mãe do Romário,
na Copa de 94, que festejava os gols
do filho estilhaçando uns cascos de
cerveja no quintal da casa pobre.
2. O futebol do Brasil não vai bem
em Olimpíada. Parecemos nos reservar para a Copa, a festa nacional de
fato do país. Gostamos do esporte em
que os pobres têm mais chances, em
que mais o improviso e o aleatório
têm importância. Talvez gostemos
tanto de futebol ainda porque a seleção passou a ganhar Copas quando o
país criava para si uma identidade
nacional e se imaginava, enfim e fugazmente, um lugar em que algo poderia prestar e dar certo.
3. Brasileiros ganham mais medalhas em esportes praticados ou difundidos por imigrantes em parte da
classe média (o judô dos "japaulistas", a vela dos imigrantes nórdicos).
Os pobres ganham algumas no atletismo que lhes sobra, mas não têm
saúde ou condições materiais para
mais. A classe média-alta, que teria
acesso a meios de fazer esporte, não
gosta nem tem o hábito do sacrifício
competitivo (não precisam competir
muito neste país elitizado).
4. Esporte é geopolítica. Ganha
mais medalha quem tem tamanho,
dinheiro e sede de poder, EUA e China na frente e a sempre emergente
turma do oceano Pacífico a seguir.
5. Esportes em que nos damos bem
não estão na Olimpíada. Somos da
bola grande: futebol de grama, areia
e salão, vôlei, basquete, vôlei de
praia. Quantas medalhas haveria aí.
Cada país, afora os grandões do esporte, faz política a fim de ter sua cota de modalidades para ganhar algo
e viver euforias nacionalistas. O Brasil ainda não tem a sua cota.
6. Esporte é saúde massificada.
Muita gente praticando para que se
descubram os fenômenos genéticos e
psicológicos que são os campeões.
7. Esporte é mercado. Precisa de
empresas ricas para dar dinheiro aos
atletas-garotos-propaganda.
Afora pela doença talvez inata do
nacionalismo, não faz diferença ganhar medalhas. Mas país que ganha
medalhas fez a diferença.
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