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São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 2003

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VERDADES E MENTIRAS

Não há como querer transformar o apresentador Gugu Liberato em vítima de um episódio em que sua responsabilidade é evidente. Mesmo na atmosfera farsesca e degradada da guerra pela audiência, na qual se esvanecem as fronteiras entre verdade e falsificação, jornalismo e entretenimento, espetáculo e informação, há limites a respeitar.
É esperado dos enfoques sensacionalistas e popularescos que "esquentem" e dramatizem os acontecimentos, caso mundialmente conhecido do jornalismo de tablóides ingleses. Há nessas situações uma camada extra de ficção no tratamento dos fatos. De tão explícita, no entanto, ela mesma tende a se denunciar: é como se houvesse um acordo tácito entre público e veículo a respeito das regras do jogo, sobre o que um pode apresentar e o outro se dispõe a aceitar.
Exibir uma entrevista forjada com dois indivíduos que se fazem passar por membros de uma organização criminosa rompe até mesmo esse "contrato" estabelecido no ambiente movediço do sensacionalismo.
Pode-se considerar, certamente, que a liminar concedida pelo Tribunal Regional Federal suspendendo a exibição do "Domingo Legal" tenha sido uma extrapolação da Justiça. De fato, a decisão assumiu caráter punitivo numa etapa anterior ao julgamento da questão. Isso não modifica a evidência de que o apresentador deve responder pela falha cometida.
O imbróglio tem suscitado também novos debates sobre a qualidade da TV. Não é preciso perder tempo para concluir que o baixo nível, em certas faixas, impera. De tão patente, a degradação ética e moral chega a despertar entre setores da elite a tentação de soluções tão "iluministas" quanto autoritárias -ou seja, o uso de barreiras institucionais para cercear a exploração desenfreada de certos temas.
Embora seja mais do que desejável, a elevação da qualidade deveria, na realidade, advir de uma resposta às pressões sociais a ser dada pelas próprias emissoras, que, afinal, utilizam concessões -nunca é demais lembrar- de caráter público.


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