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CLÓVIS ROSSI
Os radicais e os bicheiros
SÃO PAULO - Deve ser mais que mera coincidência: no mesmo momento
em que dá andamento ao processo
(stalinista) para expulsar seus mal
chamados radicais, o PT, pelo menos
o PT do Rio de Janeiro, alia-se ao irmão de um dos mais notórios bicheiros do Estado, Anísio Abrão David.
O irmão é o prefeito de Nilópolis,
Farid Abrão David, que, ainda por
cima, pertence ao PP, o partido cuja
figura mais notória ainda é Paulo
Salim Maluf.
Por isso tenho a impressão de que
Francisco de Oliveira revestiu a conversão do PT de um verniz sociológico exagerado na entrevista que deu a
Rafael Cariello, desta Folha, publicada ontem.
Chico de Oliveira vê na transformação do PT o dedo de uma "nova classe social", formada pelos gestores dos
fundos de pensão das estatais.
Não sou ninguém para discordar
de um intelectual do peso de Chico de
Oliveira, mas, ainda assim, corro o
risco de achar que o buraco é bem
mais em baixo.
O "new PT", como já o classificou
um cientista político britânico meses
atrás, trocou o idealismo pelo poder.
Tudo o que fez até agora indica que
trabalha exclusivamente para preservar o poder como fim em si mesmo,
não como meio para chegar ao país
mais justo que usava como bandeira
quando era oposição.
Talvez esteja sendo até condescendente ao supor que, antes, havia
idealismo. Parecia que sim, mas pode
ter sido tudo apenas jogo de cena para chegar ao poder (ou "bravata", como já disse o próprio presidente Luiz
Inácio Lula da Silva).
Agora que o conquistou, o PT repete na prática frase do então ministro
Jarbas Passarinho ao assinar o famigerado Ato Institucional número 5:
"Às favas os escrúpulos".
Só mesmo arquivando os escrúpulos um partido, qualquer partido,
troca uma Heloisa Helena pelo irmão de um "bicheiro".
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