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ELIANE CANTANHÊDE
Giro internacional
BRASÍLIA - Lula está nos EUA e vai a Cuba nesta semana. Não bastasse isso, a diplomacia brasileira já prepara
a próxima encrenca: uma viagem à
Argentina, em 16 e 17 de outubro.
Nos EUA, Lula leu ontem um discurso confuso, recheado de críticas
aos EUA e a suas "estratégias contraproducentes" contra o terrorismo. Se
queria seguir a linha palaciana de
"altivez sem antiamericanismo", parou no meio do caminho. O discurso
tem um tom antigoverno Bush.
Em Cuba, o abacaxi será ainda
maior. Como criticou a política americana antiterror em Nova York, deverá, ou deveria, condenar o fuzilamento de adversários do regime na
ilha de Fidel. Do contrário, a "altivez" ficará capenga, só para um lado.
Já na Argentina, o confronto de Lula terá pinceladas ideológicas, mas
será sobretudo prático: o que faz o governo do PT no Brasil versus o que
faz o governo peronista de Néstor
Kirchner no país vizinho.
Um exemplo: enquanto Lula mal
fala de educação, ciência e tecnologia
e prestigia a agroindústria -setor
que vai de vento em popa-, Kirchner faz o oposto: só fala em educação,
vive grudado no ministro da área e
não dá bola aos grandes produtores
rurais. Acha que não precisa.
Além disso, Lula viaja pelo continente fazendo discursos, alia-se à
Alemanha e à França contra a Guerra do Iraque, vira e mexe cutuca o
leão do Norte com vara curta. Enquanto Kirchner fica em Buenos Aires, fala menos e ousa mais: decretou
controle de capitais, ameaçou calote
ao FMI, arranhou as feridas do regime militar. A última: ele quer 75% de
desconto para pagar as dívidas!
Lula tem sido o menino bonzinho,
que faz o dever de casa e, de vez em
quando, mostra a língua para o poderoso Bush. Kirchner prefere fazer
piruetas a prestar atenção à aula.
Mas a Argentina demonstra boa capacidade de crescimento, e os argentinos recuperam a esperança.
Quem ri por último ri melhor, e é
muito cedo para saber se Kirchner
poderá rir melhor que Lula a longo
prazo. Mas, na visita de outubro, vai
estar sorrindo de orelha a orelha.
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