UOL




São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELIANE CANTANHÊDE

Giro internacional

BRASÍLIA - Lula está nos EUA e vai a Cuba nesta semana. Não bastasse isso, a diplomacia brasileira já prepara a próxima encrenca: uma viagem à Argentina, em 16 e 17 de outubro.
Nos EUA, Lula leu ontem um discurso confuso, recheado de críticas aos EUA e a suas "estratégias contraproducentes" contra o terrorismo. Se queria seguir a linha palaciana de "altivez sem antiamericanismo", parou no meio do caminho. O discurso tem um tom antigoverno Bush.
Em Cuba, o abacaxi será ainda maior. Como criticou a política americana antiterror em Nova York, deverá, ou deveria, condenar o fuzilamento de adversários do regime na ilha de Fidel. Do contrário, a "altivez" ficará capenga, só para um lado.
Já na Argentina, o confronto de Lula terá pinceladas ideológicas, mas será sobretudo prático: o que faz o governo do PT no Brasil versus o que faz o governo peronista de Néstor Kirchner no país vizinho.
Um exemplo: enquanto Lula mal fala de educação, ciência e tecnologia e prestigia a agroindústria -setor que vai de vento em popa-, Kirchner faz o oposto: só fala em educação, vive grudado no ministro da área e não dá bola aos grandes produtores rurais. Acha que não precisa.
Além disso, Lula viaja pelo continente fazendo discursos, alia-se à Alemanha e à França contra a Guerra do Iraque, vira e mexe cutuca o leão do Norte com vara curta. Enquanto Kirchner fica em Buenos Aires, fala menos e ousa mais: decretou controle de capitais, ameaçou calote ao FMI, arranhou as feridas do regime militar. A última: ele quer 75% de desconto para pagar as dívidas!
Lula tem sido o menino bonzinho, que faz o dever de casa e, de vez em quando, mostra a língua para o poderoso Bush. Kirchner prefere fazer piruetas a prestar atenção à aula. Mas a Argentina demonstra boa capacidade de crescimento, e os argentinos recuperam a esperança.
Quem ri por último ri melhor, e é muito cedo para saber se Kirchner poderá rir melhor que Lula a longo prazo. Mas, na visita de outubro, vai estar sorrindo de orelha a orelha.


Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: Os radicais e os bicheiros
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: O mapa da mina
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.