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São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

O mapa da mina

RIO DE JANEIRO - Leio nas folhas que o ministro da Educação está desagradando ao governo porque aconselhou os estudantes a fazer passeatas contra a falta de verbas para a sua pasta. Aparentemente, parece uma quebra de fidelidade do ministro, que deveria seguir a suspeita austeridade que lhe determinaram, dando à educação as migalhas que sobram do dinheiro destinado a pagar os juros da agiotagem internacional.
Antes de ser ministro, Cristovam Buarque é petista. Repetindo a antológica frase de Eduardo Portella, ninguém é ministro. Alguns, em alguns instantes, estão ministros. Todos sabemos, com mais ou menos detalhes, que o diferencial mais eficiente do PT em termos de doutrinação das massas é a mobilização das bases, a destemida militância que o partido herdou e, pelo caminho, foi herdando dos movimentos mais populares.
E a "finest hour" dessa militância sempre foi a concentração, a passeata, as palavras de ordem. Nas praças e nas ruas, o PT cresceu, impôs-se como partido de massa, conquistou pau a pau tudo, até a Presidência da República.
O método deve ser bom, tanto que foi usado não apenas pelo PT mas por diversos partidos no mundo inteiro, com bons resultados. Nada de mais, portanto, que um ministro que conhece o mapa do tesouro, o segredo da caverna onde se esconde o tesouro do bem público, convoque os estudantes para o "abre-te, Sésamo" que fazia a fortuna de Ali Babá e seus 40 companheiros.
Se isso desagradou a alguns personagens do Planalto, que sempre usaram o mesmo processo para acessar a mesmíssima caverna, a culpa não é do ministro.
Ele emprega, para o bem da sua pasta, a mesma fórmula redentora que levou ao poder a atual nomenclatura. A educação é a prioridade de qualquer país que tenha o déficit que mantemos. Para acabar com esse rombo estrutural, qualquer outro déficit deve ser considerado lucro.


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