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IMPASSE VENEZUELANO
A realização de mais uma
greve geral contra o governo do
presidente Hugo Chávez mostra que
a sociedade venezuelana continua
profundamente dividida. Ainda que
a paralisação desta semana tenha sido sensivelmente menor do que as
anteriores, em dezembro e abril, como indicou o enviado especial desta
Folha, Marcio Aith, permanece o fato de que Chávez tem contra si grande parte do empresariado, significativa parcela da classe média, vários
sindicatos de trabalhadores e a totalidade dos meios de comunicação.
A divisão parece já ter transcendido
o limite das dissensões políticas comuns em democracias e caminha
para tornar-se uma verdadeira ruptura. Vale lembrar que, em abril, Chávez sofreu uma tentativa de golpe de
Estado à qual sobreviveu. As estruturas democráticas venezuelanas foram preservadas, mas o impasse político está longe de ter sido resolvido.
Ainda que menos explosiva, a situação da Venezuela lembra um pouco a reinante na América Central nos
anos 80, quando vários países da região estavam cindidos por guerras
civis. É preciso que chavistas e antichavistas se reconciliem, para que a
Venezuela possa voltar a respirar.
É provável que os ânimos estejam
tão exaltados que já não seja possível
que os venezuelanos encontrem sozinhos o caminho do entendimento.
É o caso de tentar levar à Venezuela
uma espécie de mediação internacional, mais ou menos nos mesmos
moldes pelos quais o Grupo de Contadora ajudou Nicarágua e El Salvador a sair de suas guerras civis.
Chávez é um líder populista que
por vezes caminhou perigosamente
perto da ruptura institucional, mas é
o presidente legítimo do país e representa uma parcela importante da população. Já seus adversários tentaram de fato dar um golpe de Estado,
que, felizmente, foi revertido. Mas as
reivindicações que estiveram por trás
da intentona são reais e podem ser
expressas democraticamente. Enquanto o impasse persiste, toda a Venezuela está perdendo.
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