São Paulo, quarta-feira, 23 de outubro de 2002

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IMPASSE VENEZUELANO

A realização de mais uma greve geral contra o governo do presidente Hugo Chávez mostra que a sociedade venezuelana continua profundamente dividida. Ainda que a paralisação desta semana tenha sido sensivelmente menor do que as anteriores, em dezembro e abril, como indicou o enviado especial desta Folha, Marcio Aith, permanece o fato de que Chávez tem contra si grande parte do empresariado, significativa parcela da classe média, vários sindicatos de trabalhadores e a totalidade dos meios de comunicação.
A divisão parece já ter transcendido o limite das dissensões políticas comuns em democracias e caminha para tornar-se uma verdadeira ruptura. Vale lembrar que, em abril, Chávez sofreu uma tentativa de golpe de Estado à qual sobreviveu. As estruturas democráticas venezuelanas foram preservadas, mas o impasse político está longe de ter sido resolvido.
Ainda que menos explosiva, a situação da Venezuela lembra um pouco a reinante na América Central nos anos 80, quando vários países da região estavam cindidos por guerras civis. É preciso que chavistas e antichavistas se reconciliem, para que a Venezuela possa voltar a respirar.
É provável que os ânimos estejam tão exaltados que já não seja possível que os venezuelanos encontrem sozinhos o caminho do entendimento. É o caso de tentar levar à Venezuela uma espécie de mediação internacional, mais ou menos nos mesmos moldes pelos quais o Grupo de Contadora ajudou Nicarágua e El Salvador a sair de suas guerras civis.
Chávez é um líder populista que por vezes caminhou perigosamente perto da ruptura institucional, mas é o presidente legítimo do país e representa uma parcela importante da população. Já seus adversários tentaram de fato dar um golpe de Estado, que, felizmente, foi revertido. Mas as reivindicações que estiveram por trás da intentona são reais e podem ser expressas democraticamente. Enquanto o impasse persiste, toda a Venezuela está perdendo.


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