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O PAPEL DO MERCOSUL
É sintomático que o comissário europeu para Comércio,
Pascal Lamy, tenha cobrado mais integração dos países sul-americanos
ao final da fracassada reunião que
adiou, sem data, o acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Européia (UE). De fato, os recorrentes
desentendimentos entre Brasil e Argentina parecem não ter fim. Na última quinta, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, elevou
o tom para afirmar que "o Brasil não
irá abrir mão do mercado do país vizinho em favor de terceiros".
A irritação de Furlan é perfeitamente justificável. Depois de desgastantes negociações, o Brasil cedeu à pretensão argentina de proteger sua indústria de lavadoras, fogões e geladeiras da "invasão brasileira". Chegou-se a uma fórmula segundo a
qual o mercado seria dividido meio a
meio. O país vizinho, no entanto,
descumpriu o acordo ao autorizar a
entrada de geladeiras procedentes de
outros países, como Coréia do Sul e
EUA. A situação é insustentável.
Embora o comércio regional entre
membros do Mercosul tenha crescido de maneira expressiva (cerca de
300% em menos de uma década) é
um equívoco avaliar o papel do bloco
apenas pelo volume de comércio interno. É óbvio que o Brasil não pode
-e nem deve- procurar obter resultados comerciais expressivos voltando-se para o mercado argentino,
paraguaio e uruguaio.
A relevância do Mercosul reside em
seu papel geopolítico e na possibilidade de permitir aumentos de escala
na produção, criando melhores condições para o comércio externo do
bloco e as negociações com os grandes mercados. Este é caso da UE, que
tem no bloco seu principal parceiro
comercial na América Latina.
É preciso, no entanto, que o Itamaraty concretize os acordos e que o
Mercosul avance em seus mecanismos de integração. Ou o bloco respeita suas próprias regras ou poderá
desmoralizar-se entre os empresários da região e perder credibilidade
nos fóruns globais.
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