São Paulo, sábado, 23 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O PAPEL DO MERCOSUL

É sintomático que o comissário europeu para Comércio, Pascal Lamy, tenha cobrado mais integração dos países sul-americanos ao final da fracassada reunião que adiou, sem data, o acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Européia (UE). De fato, os recorrentes desentendimentos entre Brasil e Argentina parecem não ter fim. Na última quinta, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, elevou o tom para afirmar que "o Brasil não irá abrir mão do mercado do país vizinho em favor de terceiros".
A irritação de Furlan é perfeitamente justificável. Depois de desgastantes negociações, o Brasil cedeu à pretensão argentina de proteger sua indústria de lavadoras, fogões e geladeiras da "invasão brasileira". Chegou-se a uma fórmula segundo a qual o mercado seria dividido meio a meio. O país vizinho, no entanto, descumpriu o acordo ao autorizar a entrada de geladeiras procedentes de outros países, como Coréia do Sul e EUA. A situação é insustentável.
Embora o comércio regional entre membros do Mercosul tenha crescido de maneira expressiva (cerca de 300% em menos de uma década) é um equívoco avaliar o papel do bloco apenas pelo volume de comércio interno. É óbvio que o Brasil não pode -e nem deve- procurar obter resultados comerciais expressivos voltando-se para o mercado argentino, paraguaio e uruguaio.
A relevância do Mercosul reside em seu papel geopolítico e na possibilidade de permitir aumentos de escala na produção, criando melhores condições para o comércio externo do bloco e as negociações com os grandes mercados. Este é caso da UE, que tem no bloco seu principal parceiro comercial na América Latina.
É preciso, no entanto, que o Itamaraty concretize os acordos e que o Mercosul avance em seus mecanismos de integração. Ou o bloco respeita suas próprias regras ou poderá desmoralizar-se entre os empresários da região e perder credibilidade nos fóruns globais.


Texto Anterior: Editoriais: ARQUIVOS PROIBIDOS
Próximo Texto: Editoriais: LIMITE À INTERNAÇÃO

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.