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São Paulo, segunda-feira, 24 de fevereiro de 2003

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VINICIUS TORRES FREIRE

Dinheiro sujo e outras sujeiras

SÃO PAULO - Grampos na Bahia, Silveirinha no Rio, a máfia do Espírito Santo, a máfia do comendador Arcanjo em Mato Grosso, famílias de juízes de tribunais federais e superiores em confraternização com traficantes e pistoleiros, bancos envolvidos na lavanderia de dinheiro sujo. O país piora ou melhora?
Ao menos, alguns promotores, juízes, policiais e jornalistas se esforçam em interpretar o imenso quebra-cabeças do crime organizado. Poderia estar tudo debaixo do tapete.
Mas a expressão "crime organizado" parece hoje quase ingênua diante do que se sabe das primeiras peças do tal quebra-cabeça. O algo enrolado caso das contas CC-5 começa a revelar como está entrelaçada quase toda a grande bandidagem nacional.
Não tinha bons motivos quem mandou bilhões para fora do país por meio das tais contas e os guardou em empresas fajutas em paisinhos que não cobram impostos e não se importam com a origem do dinheiro.
No meio do caminho do tráfico do dinheiro estão doleiros, que prestaram serviços a traficantes, políticos, empresas etc. Os presos destes casos recorreram a juízes venais, como revelaram a CPI do Narcotráfico e outros indícios recentes.
O país conhece melhor seus podres criminosos. Mas eles são enormes e cada vez mais institucionalizados.
 

Os intelectuais orgânicos do carlismo e os tantos colaboracionistas do coronelato da Bahia estão tão quietos, tão mudos de verdades tropicais. Quando a arte vai imitar a vida na Bahia? Espera-se com ansiedade o momento em que Zélia Gattai, imortal fã de ACM, vai publicar "Arapongas, Graças a Deus" ou "Bahia de Todos os Grampos".
E o músico Caetano Veloso? Deitado eternamente na sua ambivalência tropical em relação ao coronel, "arcaico, feudal" e "bom administrador, que incentiva a cultura", Veloso um dia insultou o povo baiano louvando a "baianidade inegável" desse senador. Quando vai compor "Oju Obá, o Grampo de Xangô" para a voz da tiete carlista Gal Costa?


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