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VINICIUS TORRES FREIRE
Dinheiro sujo e outras sujeiras
SÃO PAULO - Grampos na Bahia, Silveirinha no Rio, a máfia do Espírito
Santo, a máfia do comendador Arcanjo em Mato Grosso, famílias de
juízes de tribunais federais e superiores em confraternização com traficantes e pistoleiros, bancos envolvidos na lavanderia de dinheiro sujo. O
país piora ou melhora?
Ao menos, alguns promotores, juízes, policiais e jornalistas se esforçam
em interpretar o imenso quebra-cabeças do crime organizado. Poderia
estar tudo debaixo do tapete.
Mas a expressão "crime organizado" parece hoje quase ingênua diante do que se sabe das primeiras peças
do tal quebra-cabeça. O algo enrolado caso das contas CC-5 começa a revelar como está entrelaçada quase
toda a grande bandidagem nacional.
Não tinha bons motivos quem
mandou bilhões para fora do país por
meio das tais contas e os guardou em
empresas fajutas em paisinhos que
não cobram impostos e não se importam com a origem do dinheiro.
No meio do caminho do tráfico do
dinheiro estão doleiros, que prestaram serviços a traficantes, políticos,
empresas etc. Os presos destes casos
recorreram a juízes venais, como revelaram a CPI do Narcotráfico e outros indícios recentes.
O país conhece melhor seus podres
criminosos. Mas eles são enormes e
cada vez mais institucionalizados.
Os intelectuais orgânicos do carlismo
e os tantos colaboracionistas do coronelato da Bahia estão tão quietos, tão
mudos de verdades tropicais. Quando a arte vai imitar a vida na Bahia?
Espera-se com ansiedade o momento
em que Zélia Gattai, imortal fã de
ACM, vai publicar "Arapongas, Graças a Deus" ou "Bahia de Todos os
Grampos".
E o músico Caetano Veloso? Deitado eternamente na sua ambivalência
tropical em relação ao coronel, "arcaico, feudal" e "bom administrador,
que incentiva a cultura", Veloso um
dia insultou o povo baiano louvando
a "baianidade inegável" desse senador. Quando vai compor "Oju Obá, o
Grampo de Xangô" para a voz da tiete carlista Gal Costa?
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