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São Paulo, segunda-feira, 24 de fevereiro de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

A arte custa caro

RIO DE JANEIRO - Meses atrás, por desinformação de seus realizadores, fui membro do júri que funcionou no último Festival de Gramado, um evento que já se firmou e faz parte do calendário cultural do país.
Não foi a primeira vez que vivi esse equívoco, no passado já integrara outros júris de cinema, literatura, música popular etc. A novidade dos festivais recentes é a massa de patrocínios necessária a cada festival em si e a cada produto em particular.
Já citei aqui o caso de Fernanda Montenegro, que num programa que fizemos juntos, disse que estudou, casou, criou os filhos, viajou, tudo isso com apenas o que a bilheteria do teatro ou do cinema lhe dava.
Todos os artistas do teatro, do cinema, da música, também podiam viver, modestamente às vezes, com mais largueza em outros casos, com o que pingava diretamente do bolso do público e dava para pagar a produção, os ensaios, os cenários e vestuários, os autores, os artistas, os bilheteiros.
Em Gramado, assustei-me com o volume de patrocínios de cada filme apresentado. Em alguns casos, antes da exibição da película, eram exibidos os comerciais de cada patrocinador. Duravam meia hora
Até mesmo os livros, que não competem com o cinema e o teatro em custo e produção, só se tornam possíveis, em alguns casos, com o patrocínio compacto de empresas, de governos, bancos ou prefeituras.
Recebo quase diariamente convites para lançamento de livros. O autor tal, a livraria tal, a editora tal convidam para o lançamento do livro tal.
Tudo bem. No convite, após as informações de hora e local do evento, aparecem cinco, seis, sete logomarcas que dividiram o custo da correspondência, do aluguel, dos salgadinhos e do prosecco.
Nos tempos da Livraria S. José, onde o Carlos Ribeiro inaugurou as tardes de autógrafos, tudo era bancado por ele e dava para todos.


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