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CARLOS HEITOR CONY
A arte custa caro
RIO DE JANEIRO - Meses atrás, por desinformação de seus realizadores,
fui membro do júri que funcionou no
último Festival de Gramado, um
evento que já se firmou e faz parte do
calendário cultural do país.
Não foi a primeira vez que vivi esse
equívoco, no passado já integrara outros júris de cinema, literatura, música popular etc. A novidade dos festivais recentes é a massa de patrocínios
necessária a cada festival em si e a cada produto em particular.
Já citei aqui o caso de Fernanda
Montenegro, que num programa que
fizemos juntos, disse que estudou, casou, criou os filhos, viajou, tudo isso
com apenas o que a bilheteria do teatro ou do cinema lhe dava.
Todos os artistas do teatro, do cinema, da música, também podiam viver, modestamente às vezes, com
mais largueza em outros casos, com o
que pingava diretamente do bolso do
público e dava para pagar a produção, os ensaios, os cenários e vestuários, os autores, os artistas, os bilheteiros.
Em Gramado, assustei-me com o
volume de patrocínios de cada filme
apresentado. Em alguns casos, antes
da exibição da película, eram exibidos os comerciais de cada patrocinador. Duravam meia hora
Até mesmo os livros, que não competem com o cinema e o teatro em
custo e produção, só se tornam possíveis, em alguns casos, com o patrocínio compacto de empresas, de governos, bancos ou prefeituras.
Recebo quase diariamente convites
para lançamento de livros. O autor
tal, a livraria tal, a editora tal convidam para o lançamento do livro tal.
Tudo bem. No convite, após as informações de hora e local do evento,
aparecem cinco, seis, sete logomarcas
que dividiram o custo da correspondência, do aluguel, dos salgadinhos e
do prosecco.
Nos tempos da Livraria S. José, onde o Carlos Ribeiro inaugurou as tardes de autógrafos, tudo era bancado
por ele e dava para todos.
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