São Paulo, quarta-feira, 24 de março de 2004

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ATLAS DAS CARÊNCIAS

O "Atlas de Saneamento" apresentado anteontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) é mais um lembrete de que entre as principais vítimas da ineficiência governamental e do vigoroso ajuste fiscal brasileiro está a saúde de sua população. Com efeito, a falta de investimentos em itens tão fundamentais como o tratamento de água e a rede de esgoto sanitário tem, como é óbvio, impactos sobre uma miríade de doenças.
E o que se verifica ao longo dos últimos anos é um crescimento em ritmo inferior ao desejável na oferta de água e de esgoto. Se estivéssemos em patamares muito elevados, isso não seria um grande problema, mas, infelizmente, os níveis estão muito aquém do ideal. De acordo com o IBGE, 77,8% dos domicílios brasileiros tinham acesso a água potável em 2000, enquanto apenas 47,2% das casas eram servidas pela rede de esgoto. Em 91, esses números eram 70,7% e 35,3%, respectivamente.
Isso significa que, na melhor das hipóteses, avançamos menos do que poderíamos na redução da mortalidade infantil, por exemplo. Vale lembrar que as duas revoluções que a humanidade experimentou na saúde pública foram o saneamento básico e a vacinação, o que torna mais intolerável cada dia de atraso na generalização da oferta de água e de esgoto.
É especialmente grave que não se constate, por parte do governo, esforços mais determinados para ampliar a rede de esgoto. Trata-se, afinal, de uma política pública capaz de proporcionar rápidos ganhos no campo da saúde e ainda gerar um bom número de empregos. O Planalto fala em alocar para o setor, neste ano, R$ 2,9 bilhões. Se o dinheiro de fato aparecer, algo de que a prudência manda desconfiar, será um bom começo. Mas sem ilusões: essa quantia é diminuta diante do tamanho do déficit sanitário. Estudo do Ministério das Cidades estima em R$ 178 bilhões os investimentos necessários para resolver as carências da área nos próximos dois decênios.


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