São Paulo, quarta-feira, 24 de março de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

Parabéns para quem?

RIO DE JANEIRO - Não sou entusiasta de comemorações, principalmente das más, como a do primeiro ano da Guerra do Iraque, que o presidente Bush deseja transformar num cabo eleitoral.
Mas a data merece reflexão e, além da reflexão, repúdio.
Em 2003, a invasão daquele país governado por um ditador do quilate de Saddam Hussein abria uma dúvida na consciência internacional: haveria mesmo um arsenal de destruição em massa à disposição de um fanático? As provas até então coletadas pela própria ONU negavam esse arsenal, mas a arrogância com que Bush e Blair garantiam a existência de um grave perigo à civilização cristã-ocidental sempre deixava uma dúvida. Hitler também negava instintos selvagens para com o mundo não ariano. E não estava blefando, por pouco não conseguia implantar o seu Reich de mil anos.
A guerra do ano passado provou que Bush e Blair mentiam, mentiam descaradamente, pois sabiam que não havia arsenal nuclear no Iraque. A opinião pública mundial se manifestou contra a guerra, na semana passada houve protestos violentos em San Francisco, no próprio território norte-americano.
Na Espanha também o povo ficou contra o governo que aderiu à coalizão de Bush e Blair. Pagou um preço terrível pelo erro político e militar do então primeiro-ministro.
Em outros países que também embarcaram na canoa furada, como a Itália, está instalada a véspera do horror: a qualquer momento, uma explosão, suicida ou não, pode matar milhares de pessoas na praça São Pedro ou num estádio em que jogam o Milan e o Juventus. Ou em Picadilly Circus, na hora do rush londrino.
Uma coisa é a manipulação da verdade, muito comum na política nacional ou internacional. Manipulação que também pode ser a mentira pura e simples. Mas outra coisa é a empulhação. E aí está a palavra que buscava: foi uma guerra pulha, a do Iraque


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