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ELIANE CANTANHÊDE
O neotrabalhismo
BRASÍLIA - Criado na era Vargas para barrar a ameaça do comunismo, o
trabalhismo floresceu, murchou, dividiu-se e virou... nada.
O PTB renasceu com Ivete Vargas
depois do bipartidarismo, mas jamais foi o mesmo. O PDT nasceu, viveu e pode morrer como, simplesmente, "o partido do Brizola". O PT,
apesar de ter "trabalhadores" na sigla, nunca foi trabalhista. Se tivesse
sido um dia, estaria cada vez menos.
A votação do salário mínimo, ontem, na Câmara, deixou claro quem
é quem. O governo do Partido dos
Trabalhadores e do líder sindicalista
Lula da Silva foi "vitorioso", aprovando o mínimo de R$ 260. O PTB
votou maciçamente (44 dos 52 votos)
com o governo e contra o aumento
para R$ 275 -como, curiosamente
(ou nem tanto), propôs o PFL. E o
PDT (10 dos 12) votou pelos R$ 275,
não por ser a favor do trabalhador,
mas por ser contra Lula.
Com a morte do trabalhismo, há
tempos, e de Leonel Brizola, na segunda-feira passada, aos 82 anos,
discutem-se agora a sobrevida do
PDT e a sempre falada e nunca selada união com o PTB.
As lágrimas e a emoção de Rosinha
Matheus no velório de Brizola não
deixam dúvida: até por falta de alternativa, o espólio pedetista pode acabar de volta nas mãos do casal Garotinho, que está circunstancialmente
no PMDB. Quem mais se habilita?
O Rio foi o berço e é a sede do PDT,
que deixou para trás políticos mais
ou menos ilustres, como Marcello
Alencar, Roberto Saturnino, César
Maia e o próprio Garotinho. Governadores e prefeitos, nenhum deles suportou viver à sombra de Brizola.
O "velho caudilho", que será enterrado hoje em São Borja, agarrava-se
a bandeiras como nacionalismo e
trabalhismo, mas queria mesmo era
reinar sozinho. Por isso nunca digeriu o "sapo barbudo" Lula nem a prevalência do PT na esquerda.
Morreu mais perto do PFL do que
do PT, e uma "união trabalhista" está fora de contexto: o PDT está na
oposição, e o PTB jamais sai do governo, qualquer governo.
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