São Paulo, quinta-feira, 24 de junho de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

O neotrabalhismo

BRASÍLIA - Criado na era Vargas para barrar a ameaça do comunismo, o trabalhismo floresceu, murchou, dividiu-se e virou... nada.
O PTB renasceu com Ivete Vargas depois do bipartidarismo, mas jamais foi o mesmo. O PDT nasceu, viveu e pode morrer como, simplesmente, "o partido do Brizola". O PT, apesar de ter "trabalhadores" na sigla, nunca foi trabalhista. Se tivesse sido um dia, estaria cada vez menos.
A votação do salário mínimo, ontem, na Câmara, deixou claro quem é quem. O governo do Partido dos Trabalhadores e do líder sindicalista Lula da Silva foi "vitorioso", aprovando o mínimo de R$ 260. O PTB votou maciçamente (44 dos 52 votos) com o governo e contra o aumento para R$ 275 -como, curiosamente (ou nem tanto), propôs o PFL. E o PDT (10 dos 12) votou pelos R$ 275, não por ser a favor do trabalhador, mas por ser contra Lula.
Com a morte do trabalhismo, há tempos, e de Leonel Brizola, na segunda-feira passada, aos 82 anos, discutem-se agora a sobrevida do PDT e a sempre falada e nunca selada união com o PTB.
As lágrimas e a emoção de Rosinha Matheus no velório de Brizola não deixam dúvida: até por falta de alternativa, o espólio pedetista pode acabar de volta nas mãos do casal Garotinho, que está circunstancialmente no PMDB. Quem mais se habilita?
O Rio foi o berço e é a sede do PDT, que deixou para trás políticos mais ou menos ilustres, como Marcello Alencar, Roberto Saturnino, César Maia e o próprio Garotinho. Governadores e prefeitos, nenhum deles suportou viver à sombra de Brizola.
O "velho caudilho", que será enterrado hoje em São Borja, agarrava-se a bandeiras como nacionalismo e trabalhismo, mas queria mesmo era reinar sozinho. Por isso nunca digeriu o "sapo barbudo" Lula nem a prevalência do PT na esquerda.
Morreu mais perto do PFL do que do PT, e uma "união trabalhista" está fora de contexto: o PDT está na oposição, e o PTB jamais sai do governo, qualquer governo.


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