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CARLOS HEITOR CONY
O intelectual do ano
RIO DE JANEIRO - Não costumo -nem gosto- de escrever sobre livros neste canto de página. Mas não
posso deixar sem registro dois dos
mais recentes trabalhos de Alberto da
Costa e Silva. Durante anos, em que
ele como diplomata de carreira morava fora do Brasil, só o conhecia pela
sua poesia, sendo ele filho de outro
poeta.
Convivendo com Alberto mais estreitamente nos últimos anos, li outros trabalhos seus, até que encarei
"Um Rio Chamado Atlântico", de
2003, e agora seu último livro, "Francisco Félix de Souza - Mercador de
Escravos", já louvado na semana
passada pelo Elio Gaspari.
Dentro daquilo que poderia denominar de "formação cultural", sempre fui ignorante em temas e em coisas da África, com exceção das Guerras Púnicas, que são mais romanas
do que cartaginesas. Os dois livros do
Alberto me estontearam pela importância que a África tem em nossa história, costumes, atos e fatos. Desconfio que perdi muito tempo com a Europa em geral, com Itália, França e
Espanha principalmente. Acho que
seria outro homem se procurasse o
Brasil do outro lado de um rio chamado Atlântico.
Já havia lido um de seus clássicos,
"A Enxada e a Lança", sobre a África
antes dos portugueses, vale dizer, antes de outros colonizadores. Os dois
livros mais recentes mostram que somos muito mais africanos do que europeus, nas virtudes e nos vícios que
assimilamos e, em alguns casos, ampliamos.
O mercador de escravos foi talvez o
homem mais rico de seu tempo em
todo o mundo. Teve mais de 60 filhos,
mas não é exatamente a sua biografia que interessa, e sim o entorno, as
relações da África com o Brasil, que
geralmente limitamos ao tráfico negreiro e que são bem mais profundas,
produzindo-nos como povo e nação.
Alberto da Costa e Silva ganhou o
Juca Pato como intelectual do ano.
Poucas vezes houve um prêmio tão
merecido.
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