São Paulo, quinta-feira, 24 de junho de 2004

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OTAVIO FRIAS FILHO

Primeiras apostas

A eleição para a Prefeitura de São Paulo parece que será a grande vedete deste ano eleitoral. Sempre importante, pelo peso específico da cidade no país, a campanha paulistana desta vez reúne características que fazem prever uma eleição disputada, com tendências políticas claramente representadas e capaz de galvanizar as atenções em escala nacional.
Segundo as pesquisas, os três principais candidatos -Serra (PSDB), a atual prefeita Marta (PT) e o ex-prefeito Maluf- dividem as preferências de modo equilibrado, com vantagem para o tucano. Três personalidades fortes, com imagem consolidada junto aos eleitores. Três vertentes políticas: a centro-esquerda do tucanato, a "direita" do petismo e o populismo conservador de Paulo Maluf.
Reportagem publicada na Folha mostrou que, do ponto de vista jurídico, não existe perspectiva de que Maluf tenha sua candidatura invalidada em decorrência das múltiplas investigações de que vem sendo alvo, num cerco que parece se fechar em torno dele. Presume-se que sua candidatura lhe permita ficar em evidência, atribuir as denúncias a complô eleitoral de adversários e agradar ao PT.
É fato estatístico que o eleitorado de Maluf (base social constante e inelástica, que orça por quase um terço do total) migraria, na hipótese de não poder sufragá-lo mais uma vez, para Serra numa proporção de 7 em cada 10 -evidência suficiente de que a presença de Maluf favorece a petista Marta. Imune do ângulo judicial, Maluf deverá sofrer, porém, ao menos algum desgaste em resultado da inevitável hiperexposição de sua via-crúcis processual na TV e no conjunto da mídia.
Do lado da atual prefeita, dois movimentos deverão entrecruzar-se, com consequências difíceis de antever. Com a opção preferencial pelas obras viárias e a concessão de subsídios cujo financiamento é opaco, sua gestão passará a colher resultados crescentes até a eleição. Ao mesmo tempo, o governo Lula, ao qual sua imagem está vinculada, vem perdendo popularidade há meses. E o ritmo da queda tem se acelerado.
Os demais candidatos, com a possível exceção da ex-prefeita Erundina, parecem fora do jogo. Os partidos mais fisiológicos aderiram à prefeita. O PMDB, embora também fisiológico, não fechou acordo semelhante e lança um candidato que vai acumular "recall" eleitoral. A oposição em nível federal -tucanos e liberais do PFL- está reunida na candidatura Serra.
Interessados em persuadir o eleitorado a lavrar um protesto contra os descaminhos de Lula à custa das vastas ambições de Marta, os tucanos farão o possível para "federalizar" o debate, embora dando a impressão de que só pensam mesmo é na cidade. Os petistas tentarão associar a postulação de Serra a um suposto revanchismo de derrotados e dirão que Marta tem resultados concretos a apresentar. O jogo mal começou.


Otavio Frias Filho escreve às quintas-feiras nesta coluna.


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