São Paulo, sábado, 24 de julho de 2004

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GENOCÍDIO NA ÁFRICA

Merece apoio a proposta de resolução que os EUA estão fazendo circular pelo Conselho de Segurança da ONU para uma ação contra o Sudão. Pelo texto, ou o governo sudanês prende os responsáveis pelas atrocidades na região de Darfur e os leva a julgamento ou terá de enfrentar sanções internacionais.
Uma ação urgente é necessária para interromper as operações de limpeza étnica em curso em Darfur. Pelo menos 30 mil negros já morreram nos "raids" que a milícia árabe Janjaweed vem lançando contra a população local. O conflito, em torno de água e das poucas terras agricultáveis da região, também já produziu 1,2 milhão de refugiados. Segundo alguns relatos, o número de mortos pode ser muito maior, talvez comparável ao genocídio de Ruanda em 1994. Ontem, o Congresso dos EUA aprovou uma moção classificando o que está em curso como genocídio.
É preciso de fato agir com firmeza com o governo de Cartum. Na interpretação generosa para as autoridades, elas fecharam os olhos para o massacre. Numa versão menos benigna, mas provavelmente mais realista, elas dão apoio à Janjaweed.
O caminho proposto pelos EUA parece o possível no momento. Depois da invasão unilateral do Iraque por tropas norte-americanas, é quase impossível que o Conselho de Segurança autorize uma intervenção armada, que, de resto, dificilmente encontraria países dispostos a oferecer tropas. Na impossibilidade de adotar a via militar, a opção mais forte à disposição da ONU é de fato a ameaça de sanções econômicas.
Há pressa na aprovação da resolução. Está para começar a estação chuvosa no Sudão, que praticamente impossibilitará o envio de ajuda humanitária aos refugiados. Segundo cálculos do governo norte-americano, entre 300 mil e 1 milhão de sudaneses poderão morrer de inanição e doenças. O mundo não pode assistir inerte a mais um genocídio na África, apenas porque não chegou a um consenso sobre como agir.


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