São Paulo, sábado, 24 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CLÓVIS ROSSI

FHC, veneno e moratória

BRUXELAS - Parece que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso está sendo acusado de pregar a moratória -por causa de entrevista à revista "Primeira Leitura". Bem feito. Está provando uma dose de seu próprio veneno.
Em seu governo, cansou-se de trazer ao solo o nível do debate ao qualificar seus críticos de "neobobos", "jurássicos", "vagabundos" etc., na cediça prática brasileira de tratar de desclassificar o crítico em vez de rebater a crítica.
Para completar a dose de veneno, faltaria alguém dizer, como se fez em relação ao PT, que o passado condena FHC nessa questão da moratória. Sim, senhor, ele a defendeu, como líder do governo José Sarney, que a decretou em 1987. Dizem que o fez a contragosto, mas não pediu demissão do cargo de líder, pediu?
Bom, venenos à parte, o ex-presidente faz muito bem ao pôr em debate a questão da insustentabilidade da dívida brasileira. Se ele é contra ou a favor da moratória é o que menos interessa. O que interessa é a discussão séria a respeito do tema.
Há quem diga que não é necessário discutir a questão, porque o Brasil é solvente, ao contrário da Argentina quando quebrou -vai fazer três anos. Solvente para quem, cara pálida? Para os credores, pode ser, mas essa não é a conta certa a ser feita.
A aritmética correta é esta: os recursos são "x", as despesas com a dívida são "y" e o custo de arrumar o país (infra-estrutura, saúde, educação, segurança, tecnologia, o diabo) é "z". Se x for igual a y+z, tudo bem, vamos em frente do jeito que está, rumo ao glorioso destino que nos está reservado há 500 anos, mas jamais é encontrado.
Se, no entanto, y+z for superior a x, o Brasil não é solvente, e o distinto público terá de escolher se paga y do jeito que o vem fazendo e, por extensão, z continua na lona em que está, ou se prefere algum outro caminho. E qual o custo de cada caminho. É essa a discussão. Não tem ideologia. É pura aritmética.


Texto Anterior: Editoriais: GENOCÍDIO NA ÁFRICA

Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: Espionagem e urucubaca
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.