|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
FHC, veneno e moratória
BRUXELAS - Parece que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
está sendo acusado de pregar a moratória -por causa de entrevista à
revista "Primeira Leitura". Bem feito.
Está provando uma dose de seu próprio veneno.
Em seu governo, cansou-se de trazer ao solo o nível do debate ao qualificar seus críticos de "neobobos", "jurássicos", "vagabundos" etc., na cediça prática brasileira de tratar de desclassificar o crítico em vez de rebater
a crítica.
Para completar a dose de veneno,
faltaria alguém dizer, como se fez em
relação ao PT, que o passado condena FHC nessa questão da moratória.
Sim, senhor, ele a defendeu, como líder do governo José Sarney, que a decretou em 1987. Dizem que o fez a
contragosto, mas não pediu demissão
do cargo de líder, pediu?
Bom, venenos à parte, o ex-presidente faz muito bem ao pôr em debate a questão da insustentabilidade da
dívida brasileira. Se ele é contra ou a
favor da moratória é o que menos interessa. O que interessa é a discussão
séria a respeito do tema.
Há quem diga que não é necessário
discutir a questão, porque o Brasil é
solvente, ao contrário da Argentina
quando quebrou -vai fazer três
anos. Solvente para quem, cara pálida? Para os credores, pode ser, mas
essa não é a conta certa a ser feita.
A aritmética correta é esta: os recursos são "x", as despesas com a dívida são "y" e o custo de arrumar o
país (infra-estrutura, saúde, educação, segurança, tecnologia, o diabo) é
"z". Se x for igual a y+z, tudo bem,
vamos em frente do jeito que está, rumo ao glorioso destino que nos está
reservado há 500 anos, mas jamais é
encontrado.
Se, no entanto, y+z for superior a x,
o Brasil não é solvente, e o distinto
público terá de escolher se paga y do
jeito que o vem fazendo e, por extensão, z continua na lona em que está,
ou se prefere algum outro caminho.
E qual o custo de cada caminho. É essa a discussão. Não tem ideologia. É
pura aritmética.
Texto Anterior: Editoriais: GENOCÍDIO NA ÁFRICA Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: Espionagem e urucubaca Índice
|