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FERNANDO RODRIGUES
Espionagem e urucubaca
BRASÍLIA - Como diria Lula, pode ter sido apenas uma urucubaca o fato de a espionagem da Brasil Telecom-Kroll ter transbordado para
dentro do governo. Visto de perto, foi
só mais uma prova do grau de fragilidade das instituições no país.
Uma empresa bisbilhotou a outra
por três anos, inclusive gente do governo. A melhor desculpa do petismo
federal para sua ignorância foi uma
confissão involuntária de incompetência. O ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos, sempre tranqüilo,
disse que conhecia o fato "desde março". Pano rápido.
Luiz Gushiken leu e releu a reportagem de Márcio Aith, na Folha de
quinta-feira. Ficou intrigado com a
associação de seu nome a benefícios
supostamente propiciados por duas
empresas. Acabou intrigando quem
presenciou suas dúvidas.
Ontem à tarde, prevalecia no governo a impressão de que o caso terá vida curta. Alguém fez figa com as
duas mãos no Planalto. Concluiu-se
que não há falcatruas documentadas
contra integrantes da administração
federal no relatório da Kroll -nem
mesmo em um outro texto, mais extenso, que permanece inédito na mídia. Há controvérsia a respeito.
Quem já leu o documento integral
da Kroll exagera e diz que o "governo
cai" com sua divulgação. Não cai. Só
ficaria uma fumaça densa no ar. É
um disse-que-disse danado, sem provas, mas com muitas pistas que fariam a alegria de qualquer CPI.
Não haverá CPI, não haverá documento completo da Kroll, o governo
não terá o menor interesse em ir fundo nesse assunto. Ficarão as pistas a
serem seguidas -por jornalistas e
por agentes desgarrados dos diversos
serviços de espionagem que proliferam em Brasília.
Quando e se o assunto vier à tona,
de maneira integral, o governo poderá atribuir o fato a uma urucubaca.
Se der sorte, faz figa e se salva. O diabo é se aparecerem provas de alguma
traficância, tal qual se ouve dentro
do próprio Planalto. Daí, nem mandinga brava resolverá.
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