São Paulo, sábado, 24 de julho de 2004

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FERNANDO RODRIGUES

Espionagem e urucubaca

BRASÍLIA - Como diria Lula, pode ter sido apenas uma urucubaca o fato de a espionagem da Brasil Telecom-Kroll ter transbordado para dentro do governo. Visto de perto, foi só mais uma prova do grau de fragilidade das instituições no país.
Uma empresa bisbilhotou a outra por três anos, inclusive gente do governo. A melhor desculpa do petismo federal para sua ignorância foi uma confissão involuntária de incompetência. O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, sempre tranqüilo, disse que conhecia o fato "desde março". Pano rápido.
Luiz Gushiken leu e releu a reportagem de Márcio Aith, na Folha de quinta-feira. Ficou intrigado com a associação de seu nome a benefícios supostamente propiciados por duas empresas. Acabou intrigando quem presenciou suas dúvidas.
Ontem à tarde, prevalecia no governo a impressão de que o caso terá vida curta. Alguém fez figa com as duas mãos no Planalto. Concluiu-se que não há falcatruas documentadas contra integrantes da administração federal no relatório da Kroll -nem mesmo em um outro texto, mais extenso, que permanece inédito na mídia. Há controvérsia a respeito.
Quem já leu o documento integral da Kroll exagera e diz que o "governo cai" com sua divulgação. Não cai. Só ficaria uma fumaça densa no ar. É um disse-que-disse danado, sem provas, mas com muitas pistas que fariam a alegria de qualquer CPI.
Não haverá CPI, não haverá documento completo da Kroll, o governo não terá o menor interesse em ir fundo nesse assunto. Ficarão as pistas a serem seguidas -por jornalistas e por agentes desgarrados dos diversos serviços de espionagem que proliferam em Brasília.
Quando e se o assunto vier à tona, de maneira integral, o governo poderá atribuir o fato a uma urucubaca. Se der sorte, faz figa e se salva. O diabo é se aparecerem provas de alguma traficância, tal qual se ouve dentro do próprio Planalto. Daí, nem mandinga brava resolverá.


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