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CLÓVIS ROSSI
Não dá para entender
SÃO PAULO - Eu, se fosse você, tomaria com o máximo de cuidado toda e
qualquer análise sobre o cenário eleitoral, inclusive as minhas.
Explico: não dá para entender o tal
de povo brasileiro, em especial a maneira como decide o seu voto.
Veja-se o caso de Luiz Inácio Lula
da Silva. Na opinião quase consensual dos analistas, uma de suas principais vulnerabilidades é não ter formação escolar ou, para simplificar,
diploma universitário.
Aí, vem o Datafolha e mostra que,
no segmento que, sim, tem diploma
universitário, Lula está com 53% das
intenções de voto. Ou seja, quem já
foi chamado estupidamente de "encanador" pelos adversários supostamente cultos (na eleição de 1994) seria, desde já, o presidente do Brasil, se
só votassem os portadores de diploma universitário.
É verdade que Hélio Schwartsman,
editorialista desta Folha que entende
de quase tudo, diz que tal resultado é
natural: nesse andar, o preconceito
seria menor, porque a informação é
maior.
Pode ser, mas a tendência natural
de quem tem um dado nível de formação é a de querer como "chefe" alguém com um grau educacional/ cultural pelo menos igual.
Não é tudo: na eleição paulista,
20% dos eleitores que acham o governo Geraldo Alckmin "ótimo/bom" se
dispõem a votar em Paulo Maluf. Esse dado nem o Hélio explica.
Por que diabos um cidadão que
acha um governo tão bom não vota
no titular desse governo, se ele é candidato? Pior: vota em Maluf, que diz
que é uma droga o governo que o
eleitor acha "ótimo/bom".
Seria fácil e tentador concluir, como o grande sociólogo Edson Arantes
do Nascimento, que o brasileiro não
sabe votar. Desconfio que é outra coisa: o andar de cima e o andar de baixo não falam a mesma língua. Podem, eventualmente, até coincidir no
nome do candidato, mas chegarão a
ele por motivações diferentes, às vezes até conflitantes.
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