São Paulo, terça-feira, 24 de setembro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Não dá para entender

SÃO PAULO - Eu, se fosse você, tomaria com o máximo de cuidado toda e qualquer análise sobre o cenário eleitoral, inclusive as minhas.
Explico: não dá para entender o tal de povo brasileiro, em especial a maneira como decide o seu voto.
Veja-se o caso de Luiz Inácio Lula da Silva. Na opinião quase consensual dos analistas, uma de suas principais vulnerabilidades é não ter formação escolar ou, para simplificar, diploma universitário.
Aí, vem o Datafolha e mostra que, no segmento que, sim, tem diploma universitário, Lula está com 53% das intenções de voto. Ou seja, quem já foi chamado estupidamente de "encanador" pelos adversários supostamente cultos (na eleição de 1994) seria, desde já, o presidente do Brasil, se só votassem os portadores de diploma universitário.
É verdade que Hélio Schwartsman, editorialista desta Folha que entende de quase tudo, diz que tal resultado é natural: nesse andar, o preconceito seria menor, porque a informação é maior.
Pode ser, mas a tendência natural de quem tem um dado nível de formação é a de querer como "chefe" alguém com um grau educacional/ cultural pelo menos igual.
Não é tudo: na eleição paulista, 20% dos eleitores que acham o governo Geraldo Alckmin "ótimo/bom" se dispõem a votar em Paulo Maluf. Esse dado nem o Hélio explica.
Por que diabos um cidadão que acha um governo tão bom não vota no titular desse governo, se ele é candidato? Pior: vota em Maluf, que diz que é uma droga o governo que o eleitor acha "ótimo/bom".
Seria fácil e tentador concluir, como o grande sociólogo Edson Arantes do Nascimento, que o brasileiro não sabe votar. Desconfio que é outra coisa: o andar de cima e o andar de baixo não falam a mesma língua. Podem, eventualmente, até coincidir no nome do candidato, mas chegarão a ele por motivações diferentes, às vezes até conflitantes.


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