São Paulo, terça-feira, 24 de setembro de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Eis a questão

RIO DE JANEIRO - O estágio de civilização que atravessamos, que não é lá essas coisas, mas também não é para ser jogado na lata do lixo, criou um dilema cada vez mais dramático: a hegemonia dos Estados Unidos tem direito de se preservar, de garantir sua perenidade mesmo que isso represente uma ameaça ao resto do mundo? Ou o resto do mundo tem o direito de exigir limites e impor condições a essa hegemonia?
Em outras palavras: podem os Estados Unidos assumir a polícia do planeta, agindo militarmente sempre que julgarem necessário? Podem as demais nações policiar o crescente poderio militar dos Estados Unidos?
Não entendo muito dessas questões, mas sempre ouvi dizer que Lord Kinsey, ao terminar a Conferência de Bretton-Woods, em 1944, tinha a certeza de que mais cedo ou mais tarde haveria nova guerra porque a economia que dali surgiria -e que bem ou mal conduziu a sociedade até aqui- fatalmente provocaria nova guerra mundial.
Uma guerra que não seria gerada por motivos ideológicos ou territoriais, como as anteriores, a de 1914 e 1939, mas uma guerra de domínio e predomínio de mercado.
Hitler incendiou a Europa em busca do espaço vital que desse à Alemanha condições de desenvolver a cultura ariana. Do ponto de vista dele, tudo lhe era permitido para conquistar e manter esse espaço vital.
Bush não precisa de espaço vital, tem todo o espaço do mundo à disposição de seus mísseis. Mas teme que outros países, embora em escala reduzida, baguncem ou limitem esse poder.
Fracassou no combate ao terrorismo isolado, que continuará ameaçando a "pax" dos Estados Unidos. Mas quer vencer a guerra contra aquilo que chama de ""terrorismo de Estado". Jamais acabará com os Bin Laden que de tempos em tempos destruirão suas torres. Mas tem pressa em acabar com Saddam Hussein, ainda que isso custe uma carnificina mundial.



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