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CLÓVIS ROSSI
Bravata de súdito
SÃO PAULO - Do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao criticar o "novo
colonialismo" em discurso nas Nações Unidas, em Nova York:
"Os antigos súditos converteram-se
em devedores perpétuos do sistema
econômico internacional".
Bom, a partir dessa frase, o brasileiro de boa-fé acreditaria piamente
que, na volta ao Brasil, o presidente
daria ordens a sua equipe para começar a modificar a situação de "devedores perpétuos do sistema financeiro internacional", certo?
Errado, porque os discursos em que
Lula parece o Lula pré-eleição não
passam de "uma homenagem protocolar ao passado", para utilizar frase
piedosa de editorial do jornal "O Globo" na edição de ontem.
Ao voltar ao Brasil, o que Lula fez
foi o inverso: aceitou a tese de aumentar o já obsceno superávit fiscal
primário (receitas menos despesas,
fora juros), o que significa comportamento de súdito subserviente.
Com isso, dinheiro que deveria ir
para os arquinecessários investimentos sociais ou em infra-estrutura vão
em quantidade ainda maior para
pagar uma dívida que todo o mundo
sabe que é impagável.
O superávit fiscal gerado até agora
não foi capaz de reduzir a dívida como porcentagem do PIB (Produto Interno Bruto, medida da renda de um
país). Pior: em dinheiro vivo, a dívida
só faz aumentar.
Ao explicar que, com o dinheiro da
economia adicional do governo, daria para fazer a transposição do São
Francisco, a Folha usou uma comparação fraca.
O mais adequado seria dizer que,
manter indefinidamente superávits
fiscais extraordinários, significa não
ter dinheiro para a transposição do
Brasil da posição de país de desenvolvimento humano médio para país de
desenvolvimento humano elevado,
como deveria ser o objetivo férreo de
qualquer governo e de qualquer cidadão decente.
Não é uma questão ideológica, mas
de aritmética elementar, da qual o
governo (e os fundamentalistas de
mercado) foge sempre, a não ser na
retórica para consumo externo.
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