São Paulo, quinta-feira, 24 de outubro de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

Brincando com fogo

BRASÍLIA - O líder do PFL, Inocêncio Oliveira (PE), desfilava ontem na Câmara auto-apresentando-se com um novo nome: Inocêncio Oliveira Lacerda. Uma referência a Carlos Lacerda, o udenista que estremecia governos com seus discursos no Congresso.
O líder, como já fizera o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, desfiava uma espécie de "agenda de oposição" (ou de provocação?) a um muito possível governo Lula. Algo assim, "para começar o jogo": salário mínimo de R$ 280, 82% para o funcionalismo, "uns trocados" para os militares e plano de cargos e salários para as profissões que ficaram de fora.
Ou seja: tudo o que o PT cobrou do governo FHC e de seus aliados e que jamais foi concedido em nome do equilíbrio fiscal. E agora como ficam todas essas reivindicações com os reivindicantes no poder?
Não é, porém, esse tipo de oposição que preocupa o comitê de Lula em São Paulo. Lá, a brincadeira (ou provocação?) é diferente: "Estamos preocupados é com a falta de oposição".
Foi disso que FHC e 14 aliados dele e de Serra no PSDB, no PMDB, no PPB e no PFL trataram ontem em nova reunião no Alvorada. A turma ainda nem deixou o poder, mas já se prepara para ser oposição a Lula e para disputar a volta em 2006.
O tom da campanha é duro ("medo", "risco", essas coisas), mas o tom da oposição a partir de janeiro promete ser um tanto mais ponderado ("responsabilidade", "cobrança"...).
Sendo assim, a oposição que vai dar mais trabalho é outra -de outra natureza e de outra origem. Basta ler a entrevista da senadora Heloísa Helena (PT-AL) na revista "Veja". Tem até zapatista no meio. Aí entram o MST, a CUT e os cerca de 20 deputados eleitos pelo partido e classificados como "radicais".
No comando petista, o que se diz é que o PT é um partido diferente. Depois de tudo discutido e votado, cumpre-se. Mas persiste a grande dúvida: será que essa turma -e não a do Alvorada de ontem- está aí mesmo para a brincadeira?


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