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ELIANE CANTANHÊDE
Brincando com fogo
BRASÍLIA - O líder do PFL, Inocêncio Oliveira (PE), desfilava ontem na Câmara auto-apresentando-se com um
novo nome: Inocêncio Oliveira Lacerda. Uma referência a Carlos Lacerda, o udenista que estremecia governos com seus discursos no Congresso.
O líder, como já fizera o presidente
do PFL, Jorge Bornhausen, desfiava
uma espécie de "agenda de oposição"
(ou de provocação?) a um muito possível governo Lula. Algo assim, "para
começar o jogo": salário mínimo de
R$ 280, 82% para o funcionalismo,
"uns trocados" para os militares e
plano de cargos e salários para as
profissões que ficaram de fora.
Ou seja: tudo o que o PT cobrou do
governo FHC e de seus aliados e que
jamais foi concedido em nome do
equilíbrio fiscal. E agora como ficam
todas essas reivindicações com os reivindicantes no poder?
Não é, porém, esse tipo de oposição
que preocupa o comitê de Lula em
São Paulo. Lá, a brincadeira (ou provocação?) é diferente: "Estamos preocupados é com a falta de oposição".
Foi disso que FHC e 14 aliados dele
e de Serra no PSDB, no PMDB, no
PPB e no PFL trataram ontem em
nova reunião no Alvorada. A turma
ainda nem deixou o poder, mas já se
prepara para ser oposição a Lula e
para disputar a volta em 2006.
O tom da campanha é duro ("medo", "risco", essas coisas), mas o tom
da oposição a partir de janeiro promete ser um tanto mais ponderado
("responsabilidade", "cobrança"...).
Sendo assim, a oposição que vai dar
mais trabalho é outra -de outra natureza e de outra origem. Basta ler a
entrevista da senadora Heloísa Helena (PT-AL) na revista "Veja". Tem
até zapatista no meio. Aí entram o
MST, a CUT e os cerca de 20 deputados eleitos pelo partido e classificados
como "radicais".
No comando petista, o que se diz é
que o PT é um partido diferente. Depois de tudo discutido e votado, cumpre-se. Mas persiste a grande dúvida:
será que essa turma -e não a do Alvorada de ontem- está aí mesmo
para a brincadeira?
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