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CARLOS HEITOR CONY
Sapos
RIO DE JANEIRO - Às vésperas de mais uma eleição presidencial, com
os candidatos prometendo o reinado
da justiça, do trabalho e do progresso,
convém lembrarmos recente campanha eleitoral em que o candidato vitorioso prometeu, com a mão estendida, em solene juramento cívico, dar
ao povo saúde, educação, trabalho,
segurança e desenvolvimento.
Os cinco dedos e as cinco promessas
desapareceram do debate e da ação
do candidato que, de prático, só conseguiu realmente a sua reeleição,
usando de indevidos meios para dobrar a resistência dos que se opunham à mudança constitucional.
O desenvolvimento foi negativo
após oito anos de mandato de FHC.
A segurança, bem, dessa nem se fala.
As duas principais cidades do país
tornaram-se reféns do crime organizado. O trabalho teve o seu mercado
em baixa, em níveis dramáticos, que
chegaram à beira de uma tragédia
social.
A educação e a saúde, apesar da orquestração publicitária regida pelos
ministros respectivos, obtiveram um
resultado mofino diante do desafio
que representam na vida do povo.
Restou, em parte, a instável estabilidade da economia, ou seja, o controle da inflação, que, na realidade,
já se deteriorou -com o real que foi
artificialmente valorizado e, no segundo mandato, despencado quase
comicamente em relação ao dólar.
Já foi dito, não por mim, mas por
gente mais respeitável, que política é
a arte (ou melhor, a necessidade) de
engolir sapos. Já foi dito também que
um político precisa exibir uma excelente, uma irretocável cara-de-pau.
Com ela, e com a fome mitigada pelos sais minerais e pelas proteínas do
sapo (não tenho certeza se sapo tem
proteínas e sais minerais, mas deve
ter algum valor alimentício, dado o
consumo permanente), qualquer político acredita que irá ter um lugar
assegurado na história.
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