São Paulo, quinta-feira, 24 de outubro de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Sapos

RIO DE JANEIRO - Às vésperas de mais uma eleição presidencial, com os candidatos prometendo o reinado da justiça, do trabalho e do progresso, convém lembrarmos recente campanha eleitoral em que o candidato vitorioso prometeu, com a mão estendida, em solene juramento cívico, dar ao povo saúde, educação, trabalho, segurança e desenvolvimento.
Os cinco dedos e as cinco promessas desapareceram do debate e da ação do candidato que, de prático, só conseguiu realmente a sua reeleição, usando de indevidos meios para dobrar a resistência dos que se opunham à mudança constitucional.
O desenvolvimento foi negativo após oito anos de mandato de FHC. A segurança, bem, dessa nem se fala. As duas principais cidades do país tornaram-se reféns do crime organizado. O trabalho teve o seu mercado em baixa, em níveis dramáticos, que chegaram à beira de uma tragédia social.
A educação e a saúde, apesar da orquestração publicitária regida pelos ministros respectivos, obtiveram um resultado mofino diante do desafio que representam na vida do povo.
Restou, em parte, a instável estabilidade da economia, ou seja, o controle da inflação, que, na realidade, já se deteriorou -com o real que foi artificialmente valorizado e, no segundo mandato, despencado quase comicamente em relação ao dólar.
Já foi dito, não por mim, mas por gente mais respeitável, que política é a arte (ou melhor, a necessidade) de engolir sapos. Já foi dito também que um político precisa exibir uma excelente, uma irretocável cara-de-pau.
Com ela, e com a fome mitigada pelos sais minerais e pelas proteínas do sapo (não tenho certeza se sapo tem proteínas e sais minerais, mas deve ter algum valor alimentício, dado o consumo permanente), qualquer político acredita que irá ter um lugar assegurado na história.


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