São Paulo, domingo, 24 de outubro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Salário, medo e esperança

LISBOA - Lembra-se dos primeiros muitos meses do atual governo, quando o presidente da República pedia paciência e dizia que uma criança leva nove meses para nascer, um ano mais ou menos para começar a andar e a falar alguma coisa?
Pois é. O governo Luiz Inácio Lula da Silva está prestes a completar dois anos, idade suficiente para ter nascido e começado a falar e a andar. Mas continua mudo e manco em relação ao ponto que, em tese, seria o central para um Partido dos Trabalhadores: a renda do trabalhador.
A renda média do assalariado brasileiro, em termos reais (ou seja, descontada a inflação), é hoje R$ 122,82 inferior à que era em setembro de 2002, às vésperas da eleição em que, supostamente, a esperança venceria o medo. Perdeu, se por esperança se entender melhoria no salário.
Pior: vai continuar perdendo, a julgar pelas análises de Lauro Ramos, coordenador de Estudos de Mercado do Trabalho do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.
Depois de lembrar que a renda do trabalhador caiu mais de 13% no ano passado, na comparação com 2002, Ramos afirmou: "Foi uma queda brutal e vai demorar muito para voltar aos patamares de 2002".
Os petistas dirão que a culpa é da "herança maldita". Em parte é até verdade. Mas passou tempo demais para culpar apenas o passado. Basta ler o que escreveu ontem para esta Folha Claudio Salvadori Dedecca, professor e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Unicamp.
Depois de lembrar que crescimento mais acelerado é condição essencial para o mercado de trabalho, Dedecca diz que "a questão do emprego não tem sido uma prioridade da política econômica. Caso isso tivesse ocorrido, seus gestores já teriam percebido a insuficiência do crescimento por eles imposto à nação e teriam alargado seu campo de ações para além da política monetária".
Ou seja, mais medo, menos esperança à vista.


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