São Paulo, domingo, 24 de novembro de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Lula e Jânio

RIO DE JANEIRO - Entre o medo e a esperança em relação ao novo governo, fico com a esperança. Mesmo assim, abro uma brecha nessa esperança, lembrando casos antigos que fazem parte da história -que, afinal, é a mestra a nos ensinar quando devemos ter medo ou esperança.
A brecha é um flash back mais ou menos recente. Jânio Quadros foi eleito com 6 milhões de votos. Na época, era um recorde absoluto em escala mundial, tal como aconteceu agora com Lula.
Jânio era também um fato novo e não se sabia ainda que era um desequilibrado, coisa que Lula positivamente não é. Em dificuldade para governar de acordo com as promessas feitas na campanha, Jânio culpava o Congresso, a Constituição, a imprensa, o empresariado, queria poderes maiores -se possível, absolutos.
Armou a renúncia na esperança de que os 6 milhões de brasileiros que haviam votado nele ocupariam as ruas das capitais e pegariam em armas, dando-lhe o que precisava para ser o presidente que todos esperavam.
Aproximar os dois -Lula e Jânio- é dose, quase uma alucinação. Contudo, os desafios que Lula tem pela frente, sobretudo no setor social, obrigará o novo governo a uma ginástica que mais cedo ou mais tarde exigirá poderes extraordinários.
Honra seja feita a FHC, que violou a Constituição uma única vez, mesmo assim em proveito próprio -para obter a emenda da reeleição. Fora disso, foi um servo fiel das instituições, tanto que não quer ficar no poder mais seis dias.
Lula terá problemas bem mais sérios, sobretudo porque durante os oito anos de FHC a área social entrou em acelerada decomposição: Previdência falida, desemprego, concentração de renda, reforma agrária etc.
Daqui a um ano, quando for devidamente cobrado pelos seus eleitores de carteirinha, Lula terá de ser um super-homem ou um novo Jânio Quadros.


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