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CLÓVIS ROSSI
Um sonho de Natal
SÃO PAULO - Do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na sexta-feira: "Eu
digo sempre que, se tem um homem
neste país que tem razões de sobra
para estar feliz, sou eu".
Do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva na segunda-feira, de acordo
com relato de líderes partidários recolhido por esta Folha: "O ano que
vem ainda não será o dos meus sonhos. Ainda não dá para fazer tudo o
que a gente gostaria, mas será melhor do que este ano".
Se 2004 não será o ano dos sonhos
do presidente e se 2003 foi ainda pior,
como ele pode ficar feliz?
Só posso supor, conforme, aliás, já
dito neste mesmo espaço a propósito
da primeira frase, que Lula esteja feliz porque alcançou o sonho de sua
vida, que era o de ser presidente da
República. O problema é que alcançar a Presidência é apenas a primeira parte do sonho. Entrar no Palácio
do Planalto com a faixa presidencial
no peito é de fato um orgulho para
qualquer um, mais ainda para quem
tem a história de vida de Lula.
Mas a vitória verdadeira, o sonho
dourado de qualquer brasileiro digno e decente é sair do Palácio coberto
de glórias. Lula, que é um brasileiro
digno e decente, não pode ainda orgulhar-se dessa glória na avaliação
que ele próprio faz. Se 2004 não será
o ano dos sonhos, mas, ainda assim,
será melhor que 2003, tem-se que
metade do mandato terá se passado
sem um desempenho notável.
Há quem festeje o fato de que Lula
mantém, ao final do primeiro ano, a
mesma porcentagem de "ótimo/
bom" que tinha com três meses de
gestão. Tudo bem, é um critério.
Mas, por mim, não é um bom critério. Lula foi eleito com 66% dos votos, o que leva a crer que dois de cada
três brasileiros acreditavam que ele
faria, no mínimo, um bom governo.
Se, hoje, menos de um de cada dois
eleitores acha o governo "ótimo/
bom", o resultado é medíocre.
E tudo o que o Brasil dispensa é
mais um governo medíocre. Por isso,
que o presente de Natal, para o presidente e para o leitor, seja sonhar o
mais ambicioso dos sonhos para eles
e para o Brasil.
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