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São Paulo, quarta-feira, 24 de dezembro de 2003

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FERNANDO RODRIGUES

Um governo virtual

BRASÍLIA - Lula discursou na semana passada para relatar o que fez. Na saída do Palácio do Planalto, os convidados receberam a revista "A Mudança Já Começou" com a compilação dos feitos lulistas.
A publicação destoa do padrão Duda Mendonça. A capa tem uma foto fora de foco. Acompanha a revista um encarte indecifrável: um pôster branco (98 cm X 68,5 cm) com centenas de nomes de programas federais, todos interligados por linhas. Nem um burocrata soviético faria melhor em 1917, com nomes desconhecidos como "Bula eletrônica e Visalegis" e "Projeto Pintando a Liberdade".
O mais importante é que o virtualismo ensinado por Duda Mendonça a Maluf e Pitta continua firme e forte com Lula. Por exemplo, nesse encarte há um sub-sub-sub-sub-subitem (é o quinto na escala do fluxograma) chamado "Criação do Depto. de Recuperação de Ativos". Na revista "A Mudança Já Começou", o nome do órgão é outro: "Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional".
No sítio do Ministério da Justiça na internet, a criação do órgão foi anunciada em 29 de julho com um nome também diferente: "Departamento de Recuperação de Ativos Ilícitos". Por óbvio, supõe-se, o pleonasmo "ilícitos" caiu em desuso.
Pouco importa. Esse departamento ainda não existe formalmente. Trabalham ali há quase seis meses 11 pessoas, incluindo o contínuo. Desde 6 de novembro, a Casa Civil analisa o texto de uma medida provisória para a criação oficial desse órgão, considerado pelo governo essencial para o combate à corrupção no país.
Não há ilegalidade na não-existência formal do, vamos usar as iniciais, DRACJI. Só existe aí um traço de comportamento do governo. O importante é anunciar. Fazer comunicados. Criar nomes. Siglas. Colocar tudo em revistas, fluxogramas e, principalmente, propaganda.
Como disse Lula a seus ministros no jantar de final de ano, em 2004 seu governo terá de encontrar uma saída menos virtual. Não é fácil.


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