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FERNANDO RODRIGUES
Um governo virtual
BRASÍLIA - Lula discursou na semana passada para relatar o que fez. Na
saída do Palácio do Planalto, os convidados receberam a revista "A Mudança Já Começou" com a compilação dos feitos lulistas.
A publicação destoa do padrão Duda Mendonça. A capa tem uma foto
fora de foco. Acompanha a revista
um encarte indecifrável: um pôster
branco (98 cm X 68,5 cm) com centenas de nomes de programas federais,
todos interligados por linhas. Nem
um burocrata soviético faria melhor
em 1917, com nomes desconhecidos
como "Bula eletrônica e Visalegis" e
"Projeto Pintando a Liberdade".
O mais importante é que o virtualismo ensinado por Duda Mendonça
a Maluf e Pitta continua firme e forte
com Lula. Por exemplo, nesse encarte
há um sub-sub-sub-sub-subitem (é o
quinto na escala do fluxograma)
chamado "Criação do Depto. de Recuperação de Ativos". Na revista "A
Mudança Já Começou", o nome do
órgão é outro: "Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação
Jurídica Internacional".
No sítio do Ministério da Justiça na
internet, a criação do órgão foi anunciada em 29 de julho com um nome
também diferente: "Departamento
de Recuperação de Ativos Ilícitos".
Por óbvio, supõe-se, o pleonasmo "ilícitos" caiu em desuso.
Pouco importa. Esse departamento
ainda não existe formalmente. Trabalham ali há quase seis meses 11 pessoas, incluindo o contínuo. Desde 6
de novembro, a Casa Civil analisa o
texto de uma medida provisória para
a criação oficial desse órgão, considerado pelo governo essencial para o
combate à corrupção no país.
Não há ilegalidade na não-existência formal do, vamos usar as iniciais,
DRACJI. Só existe aí um traço de
comportamento do governo. O importante é anunciar. Fazer comunicados. Criar nomes. Siglas. Colocar
tudo em revistas, fluxogramas e,
principalmente, propaganda.
Como disse Lula a seus ministros
no jantar de final de ano, em 2004
seu governo terá de encontrar uma
saída menos virtual. Não é fácil.
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