São Paulo, Terça-feira, 25 de Janeiro de 2000


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E se fosse no Brasil?

CLÓVIS ROSSI

Basel, Suíça - Pense um pouco, caro leitor, se, no fundo d'alma, você não abrigou em dado momento (ou ainda abriga, quem sabe) o desejo de fazer como os indígenas do Equador: invadir o Congresso com a sua turma, pôr para correr presidente e parlamentares e assumir o comando você mesmo.
Suspeito que esse recôndito desejo deve ser comum a uma boa parcela dos latino-americanos. É claro que, no Equador, houve a coincidência extrema entre anarquia política e uma feroz crise econômica, maior do que a que sofreram, na esteira dos problemas asiáticos, outros países da região.
Mesmo assim, um caso extremo como o do Equador não quer dizer necessariamente um caso único.
No Brasil, como nos demais países da região, respira-se um ambiente de saturação com os políticos de modo geral, tidos como senhores engravatados que não têm a mais remota idéia do que sentem seus representados.
Há exceções, é óbvio, mas cada vez mais o pessoal quer saber cada vez menos delas. Cresce em ritmo alucinante a generalização de que "todo político não presta", o que é absurdo, claro, mas é fruto do comportamento de boa parte das autoridades.
Basta imaginar a reprodução, em Brasília ou Buenos Aires, do que ocorreu no Equador: alguém aí acha que, se houvesse uma grande mobilização dos setores organizados da sociedade que marchasse para tomar o Congresso ante a omissão das forças de segurança, haveria alguma dificuldade para concretizar a operação?
Haveria alguma resistência, a não ser de alguns parlamentares, assim mesmo não muitos, porque a maioria se esconderia?
Antes que me acusem de golpismo, não estou sugerindo nada disso. Estou apenas constatando fatos. Não é que a democracia seja ruim (o regime militar é que legou boa parte dos problemas que os civis não estão conseguindo resolver). O diabo, na América Latina, é que os maiores interessados desmoralizam a democracia.


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