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E se fosse no Brasil?
CLÓVIS ROSSI
Basel, Suíça - Pense um pouco, caro
leitor, se, no fundo d'alma, você não
abrigou em dado momento (ou ainda
abriga, quem sabe) o desejo de fazer
como os indígenas do Equador: invadir o Congresso com a sua turma, pôr
para correr presidente e parlamentares e assumir o comando você mesmo.
Suspeito que esse recôndito desejo
deve ser comum a uma boa parcela
dos latino-americanos. É claro que, no
Equador, houve a coincidência extrema entre anarquia política e uma feroz crise econômica, maior do que a
que sofreram, na esteira dos problemas asiáticos, outros países da região.
Mesmo assim, um caso extremo como o do Equador não quer dizer necessariamente um caso único.
No Brasil, como nos demais países
da região, respira-se um ambiente de
saturação com os políticos de modo
geral, tidos como senhores engravatados que não têm a mais remota idéia
do que sentem seus representados.
Há exceções, é óbvio, mas cada vez
mais o pessoal quer saber cada vez
menos delas. Cresce em ritmo alucinante a generalização de que "todo
político não presta", o que é absurdo,
claro, mas é fruto do comportamento
de boa parte das autoridades.
Basta imaginar a reprodução, em
Brasília ou Buenos Aires, do que ocorreu no Equador: alguém aí acha que,
se houvesse uma grande mobilização
dos setores organizados da sociedade
que marchasse para tomar o Congresso ante a omissão das forças de segurança, haveria alguma dificuldade
para concretizar a operação?
Haveria alguma resistência, a não
ser de alguns parlamentares, assim
mesmo não muitos, porque a maioria
se esconderia?
Antes que me acusem de golpismo,
não estou sugerindo nada disso. Estou
apenas constatando fatos. Não é que a
democracia seja ruim (o regime militar é que legou boa parte dos problemas que os civis não estão conseguindo resolver). O diabo, na América Latina, é que os maiores interessados
desmoralizam a democracia.
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