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Responsabilidade já!
ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - A desculpa do Congresso
para não votar a Lei de Responsabilidade Fiscal na quarta-feira passada
foi a partida Brasil-Chile, transmitida
ao vivo pela TV. Mas o jogo é outro.
É a mobilização de prefeitos -especialmente dos que vão disputar a reeleição- para evitar que a lei entre em
vigor este ano e atrapalhe seus planos
para as campanhas eleitorais.
O que a lei diz? Em bom português,
determina que às vésperas de eleições
os governantes (inclusive os prefeitos)
não podem sair por aí:
1) pendurando cabos eleitorais e
apadrinhados em empregos públicos;
2) contraindo empréstimos do tipo
ARO (Antecipação de Receitas Orçamentárias), caros e de curto prazo;
3) contratando obras eleitoreiras a
empreiteiras amigas e espertas.
Se parece tão razoável, a quem interessa adiar, e por quê?
Os prefeitos sacaram uma série de
argumentos técnicos, científicos, metafísicos e transcendentais para defender com unhas e dentes o adiamento
do vigor e do rigor da lei. "Mui amigos", os parlamentares empurraram a
votação para hoje.
Depois do quem, o porquê: se o prefeito puder usar todos esses recursos
(contratações, obras, empréstimos),
ele não só estará concorrendo em situação triplamente favorável como estará gerando dívidas que só serão quitadas na próxima gestão. Se forem.
Reeleito, ele vai ter quatro anos para
pagar essas dívidas, diluir as suspeitas
e deixar tudo como está. Se perder, fica
mais fácil ainda: ele joga a bomba e as
contas no colo do sucessor e vai assistir
à explosão da arquibancada. Nem
queima as pestanas.
Prefeitos sempre gastam muito e endividam suas prefeituras em épocas
eleitorais. Agora, com a possibilidade
de reeleição, a regra pode virar uma
grande festa nacional, do Oiapoque
ao Chuí. Quem paga a conta é o futuro
prefeito. Além de você, claro.
A Lei de Responsabilidade Fiscal
não pode esperar. Tem que ser votada
logo e tem que entrar em vigor logo. O
oposto de responsabilidade é irresponsabilidade. Para dizer o mínimo.
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