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Striptease da história
MÁRIO MAGALHÃES
Rio de Janeiro - As famílias de mortos e desaparecidos políticos chegarão
com uma penca de reivindicações e
sairão com pelo menos uma boa notícia da audiência com o ministro José
Carlos Dias amanhã: o Ministério da
Justiça vai abrir os seus arquivos referentes ao regime militar.
Os documentos do próprio ministério mantidos no Rio pelo Arquivo Nacional passam a ter acesso irrestrito.
Classificações como "secreto" e "confidencial" ainda impedem um conhecimento pleno de registros históricos,
apesar de o material ter sido, há anos,
expurgado de peças comprometedoras para autoridades da época.
Mais importante, José Carlos Dias
anunciará empenho na busca dos papéis guardados por outros órgãos federais de 1964 a 1985.
É diminuta a hipótese de resgate de
preciosidades como os arquivos das
Forças Armadas sobre a repressão.
Mas uma investigação oficial teria
chances de descobrir o paradeiro dos
fichários secretos da Polícia Federal.
Quem já os viu revela, por exemplo,
que deles constam o local (Petrópolis)
da morte de Honestino Guimarães,
um dos pelo menos 136 militantes cujos corpos sumiram misteriosamente.
Os parentes de desaparecidos mantêm esperanças de encontrar nos papéis pistas que levem às ossadas.
"A abertura dos arquivos não será
topless, parcial, mas um striptease
completo", diz o ministro da Justiça.
O maior obstáculo a seus planos é a
"privatização" a que foram submetidos os arquivos policiais e militares. Os
agentes do aparato repressivo carregaram o essencial para casa.
As famílias também vão pedir ao
ministro a mudança da Lei dos Mortos e Desaparecidos, ampliando a
abrangência das indenizações a parentes de vítimas do Estado. A decisão
dependerá da disposição de FHC para
cutucar neste momento a área militar.
O projeto de lei deve ficar para depois.
Resumo da ópera: 15 anos após o fim
do regime dos generais, sua história
real está longe de ser contada por inteiro, e as feridas, cicatrizadas.
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