São Paulo, Terça-feira, 25 de Janeiro de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Striptease da história

MÁRIO MAGALHÃES

Rio de Janeiro - As famílias de mortos e desaparecidos políticos chegarão com uma penca de reivindicações e sairão com pelo menos uma boa notícia da audiência com o ministro José Carlos Dias amanhã: o Ministério da Justiça vai abrir os seus arquivos referentes ao regime militar.
Os documentos do próprio ministério mantidos no Rio pelo Arquivo Nacional passam a ter acesso irrestrito.
Classificações como "secreto" e "confidencial" ainda impedem um conhecimento pleno de registros históricos, apesar de o material ter sido, há anos, expurgado de peças comprometedoras para autoridades da época.
Mais importante, José Carlos Dias anunciará empenho na busca dos papéis guardados por outros órgãos federais de 1964 a 1985.
É diminuta a hipótese de resgate de preciosidades como os arquivos das Forças Armadas sobre a repressão.
Mas uma investigação oficial teria chances de descobrir o paradeiro dos fichários secretos da Polícia Federal.
Quem já os viu revela, por exemplo, que deles constam o local (Petrópolis) da morte de Honestino Guimarães, um dos pelo menos 136 militantes cujos corpos sumiram misteriosamente.
Os parentes de desaparecidos mantêm esperanças de encontrar nos papéis pistas que levem às ossadas.
"A abertura dos arquivos não será topless, parcial, mas um striptease completo", diz o ministro da Justiça.
O maior obstáculo a seus planos é a "privatização" a que foram submetidos os arquivos policiais e militares. Os agentes do aparato repressivo carregaram o essencial para casa.
As famílias também vão pedir ao ministro a mudança da Lei dos Mortos e Desaparecidos, ampliando a abrangência das indenizações a parentes de vítimas do Estado. A decisão dependerá da disposição de FHC para cutucar neste momento a área militar. O projeto de lei deve ficar para depois.
Resumo da ópera: 15 anos após o fim do regime dos generais, sua história real está longe de ser contada por inteiro, e as feridas, cicatrizadas.



Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Responsabilidade já!
Próximo Texto: Ariano Suassuna: Tolstói, Marighella e Roberto Campos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.